Conceito relativamente novo no Brasil, o “ESG” é, agora, um dos assuntos mais importantes do setor corporativo e está revolucionando o mundo dos investimentos. Sigla para Enviromental, Social and Governance, o termo compreende um conjunto de ações que empresas devem tomar sobre meio ambiente, sociedade e governança corporativa para serem consideradas responsáveis e preocupadas com as questões sócio-sustentáveis que permeiam a atualidade.
De acordo com Lucas Ferreira, agente de inovação da Troposlab, empresa especializada em inovação, o movimento para trazer essa economia social e sustentável está vindo em ondas e várias corporações têm se tornado menos interessantes para investimento estrangeiro por não atenderem pautas vinculadas ao ESG. “Muitas instituições estão começando a se reestruturarem não porque querem, mas porque estão perdendo fundo de investimentos. A tendência é que o mercado financeiro no Brasil se modifique para atender a pauta do ESG, já que no momento a bolsa de valores está revendo os seus indicadores a fim de identificar e valorizar as organizações que estejam seguindo a agenda sustentável”.
Recentemente, os fundos de investimentos com base no ESG chegaram a uma marca histórica de US$1trilhão de patrimônio no mundo, com crescimento de 25% no segundo trimestre de 2020, com a Europa e os EUA representando os maiores mercados, possuindo uma concentração de aproximadamente 870 bilhões de dólares e 158 bilhões de dólares, respectivamente.
Em paralelo, as pequenas e médias empresas brasileiras já atendem as pautas do ESG, porém não têm visibilidade por não causarem tanto impacto quantos grandes empresas e indústrias. Ainda assim, elas fazem uma grande diferença no país, gerando renda de 70% dos brasileiros, dentre as iniciativas privadas, de acordo com o Sebrae. Segundo o agente, a relação mais próxima das PMEs com a sociedade ajuda a evidenciar o quanto elas já seguem essa agenda, muito mais do que é exigido de grandes negócios. O impacto que a agricultura familiar tem dentro do Brasil, por exemplo, acaba sendo maior que de grandes produtores.
“As PMes têm desafios diferentes: criar um empreendimento do zero, tornar ele um negócio de impacto e ser sustentável financeiramente. Já as grandes corporações precisam sair da inércia e mover toda a organização, que é burocrática e complexa, para trabalhar pautas que nunca foram discutidas em séculos. Muitas vezes são os próprios funcionários que formam grupos internos a fim de debaterem questões sociais e ambientais e posteriormente apresentam para os tomadores de decisões”.
Além da pressão dos fundos de investimento, a nova geração de consumidores, em especial os millenials, ligados à responsabilidade e ao impacto social, estão obrigando os mercados a firmarem um compromisso e buscarem soluções para um modelo financeiro e produtos mais sustentáveis. Uma pesquisa realizada pela Schroders em 2018 aponta que 52% das pessoas entre 18 e 34 anos apostam em fundos sustentáveis, deixando de lado aqueles que não consideram fatores relacionados a ESG.
Para Ferreira, o ESG deve ser entendido como um processo, e não como algo binário (sim ou não) ou excludente. Nenhuma empresa no mundo está preparada para atender totalmente essa pauta. A instituição primeiro identifica os níveis que ela já atende dessas práticas e a partir daí vai desenvolvendo. Contudo, mesmo não sendo obrigatório, as corporações que não aderirem ao movimento vão sofrer as consequências no futuro.
O agente finaliza avisando que apesar do impacto negativo gerado no início da pandemia de COVID-19, os interesses dos investidores por modelos de negócios sustentáveis e resilientes têm aumentado e seguido os padrões de sustentabilidade e governança. “O Brasil segue nessa onda porque os fundos de investimento, o mercado, acabou o empurrando e impulsionando para que também siga nessa agenda. Então, no cenário da pós-pandemia, existe o risco dos níveis de investimento permanecerem baixos caso as instituições não atendam essas expectativas.”