O setor varejista no Brasil registrou em 2024 seu maior crescimento em 12 anos, com alta acumulada de 4,7%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o desempenho de dezembro sinalizou uma desaceleração, com retração de 0,1% na comparação mensal, ficando abaixo da expectativa do mercado, que projetava estabilidade.
O impacto do cenário econômico
O crescimento expressivo ao longo do ano foi impulsionado por fatores como um mercado de trabalho aquecido, maior oferta de crédito e aumento da renda. Porém, o varejo perdeu fôlego nos últimos meses de 2024, refletindo um cenário econômico de aperto monetário e redução dos estímulos fiscais.
A taxa básica de juros (Selic), elevada para 13,25% pelo Banco Central em janeiro, encarece o crédito e reduz o consumo, o que pode impactar o setor varejista no início de 2025.
"Para 2025, projetamos uma desaceleração no crescimento devido à redução dos estímulos fiscais e de crédito, além da inflação e juros elevados. No entanto, o mercado de trabalho aquecido e o aumento da massa salarial devem mitigar os efeitos dessa retração", avalia Igor Cadilhac, economista do PicPay.
Setores em destaque
Em dezembro, cinco dos oito segmentos do varejo restrito registraram queda nas vendas, com destaque para:Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,0%);artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-3,3%);combustíveis e lubrificantes (-3,1%).
Já no comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos e material de construção, a queda foi de 1,1% em dezembro, mas o setor ainda fechou 2024 com alta acumulada de 4,1% – o melhor desempenho desde 2021 (+4,5%).
Entre as atividades que se destacaram ao longo do ano, o segmento farmacêutico foi o principal impulsionador do crescimento, com alta de 14,2%, mantendo oito anos consecutivos de avanço. Outros setores com resultados positivos foram:Veículos e motos, partes e peças (+11,7%);outros artigos de uso pessoal e doméstico (+7,1%); material de construção (+4,7%).
Por outro lado, três setores fecharam o ano em queda:combustíveis e lubrificantes (-1,5%); atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo (-7,1%); livros, jornais, revistas e papelaria (-7,7%).
"O segmento de livros e papelaria enfrenta um declínio contínuo devido à digitalização, com o livro didático sendo o principal suporte dessa atividade", comenta Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
Perspectivas para 2025
Os dados do varejo reforçam sinais de desaceleração da economia brasileira no fim de 2024, acompanhando a tendência já observada na produção industrial e no setor de serviços. Para 2025, o varejo pode enfrentar desafios diante do cenário de crédito mais restrito e juros elevados, mas o mercado de trabalho aquecido ainda pode garantir algum fôlego ao consumo.