De acordo com a empresa de consultoria empresarial McKinsey, o déficit de profissionais em tecnologia no Brasil até 2030 passará de 1 milhão de pessoas. Com os desafios para mão de obra qualificada, recrutamento e retenção desde o estágio podem ser opções para driblar o cenário econômico e desenvolver nos colaboradores as competências do futuro. “A capacitação e formação de pessoas, que é necessária para mudar o déficit de habilidades no mercado de trabalho, é ainda mais potencializada quando olhamos para aqueles em início de carreira, os estagiários”, explica Leandro Herrera, CEO e fundador da Tera, plataforma de educação online e ao vivo para profissões digitais.
Segundo o especialista, estudos do Fórum Econômico Mundial já apontam que há uma desconexão entre as demandas dos empregadores e a formação dos profissionais recém-saídos do sistema educacional. “É uma via de mão dupla: para as empresas, é uma maneira de investir desde cedo no desenvolvimento de talentos internamente, educando no que há de mais novo no setor; para os estudantes, oferece experiência e bagagem para crescer no seu campo de atuação e conquistar novas oportunidades”, diz Herrera.
Na divisão de Agricultura da Hexagon, por exemplo, diversos profissionais que iniciaram na empresa como estagiários continuam fazendo carreira — inclusive integrando cargos de gerência, como é o caso da Claudia Garcia (Gerente de Contratos Florestais), Luiz Raupp (Gerente de Projetos) e Hugo Fagundes (Gerente de Produto).
“Sempre buscamos desenvolver os estagiários, pois acreditamos que o aprendizado prático é importante para concretizar os conhecimentos adquiridos durante o período acadêmico.
Além disso, é uma oportunidade de atrair novos talentos para integrar nossa equipe: sempre que possível, preparamos esse profissional para uma efetivação”, explica Catiane Tribess, Analista de RH da divisão.
Mateus Conceição, Desenvolvedor Web que iniciou como estagiário em 2019 e foi efetivado em 2021, destaca que, desde a primeira entrevista, a Hexagon demonstrou interesse no seu aprendizado contínuo. “Ao ser efetivado, tive abertura para escolher qual área gostaria de seguir dentro da empresa, conforme meus interesses e expectativas de carreira”, detalha. Durante o período de estágio, ele também encontrou apoio para desenvolver seu projeto de final de curso. “Um dos benefícios da Hexagon, nesse sentido, é dar espaço para que os alunos desenvolvam ideias que sejam do seu interesse e, ao mesmo tempo, recebam orientação para adaptá-la ao mercado. Ao final desse processo, normalmente, os projetos se tornam provas de conceito para futuros produtos ou funcionalidades do portfólio da empresa, gerando benefícios para os dois lados”, conclui Mateus.
Na Way2, empresa especializada em medição e gerenciamento de dados de energia, também é comum encontrar colaboradores que começaram como estagiários e foram efetivados, na maioria das vezes sem nem completar os dois anos de contrato. Historicamente, 99% dos estágios foram efetivados na empresa, e alguns deles chegaram a alcançar cargos de liderança. É o caso do diretor comercial, Thales Fonseca , e o gerente de novos segmentos, Luis Hioka. Ambos começaram como estagiários na mesma área há 13 anos, tiveram oportunidade de atuar em diferentes setores e cada um seguiu carreira na especialidade que fez mais sentido para o seu perfil. Para Cristiane Rosa da Silveira, Talent Acquisition na Way2, a oportunidade de conhecer e experimentar atividades diferentes é uma forma de apoiar as escolhas dos estudantes. “Sempre que possível, fazemos essas movimentações, entendemos que é uma forma de contribuir para o desenvolvimento desses talentos”, explica.
A empresa também aposta em oferecer benefícios aos estagiários similares aos dos colaboradores efetivos para atrair talentos. “Além da bolsa mensal, que é bem competitiva, eles têm direito a plano de saúde e odontológico, vale refeição/alimentação, auxílio home office, recebem uma verba anual para capacitação, bônus anual entre outros benefícios”. Segundo Cristiane, por serem estudantes de cursos relacionados às áreas que atuam, qualificados e com muita vontade para colocar em prática tudo aquilo que eles estudam na faculdade, tendem a se desenvolver e se destacar com o tempo. “Quando surge uma vaga efetiva na área que atuam, é muito mais coerente dar a oportunidade de efetivação para eles, que já estão aculturados, desenvolvidos e preparados para desempenhar aquelas atividades, do que contratar alguém de mercado que ainda vai precisar passar pelo processo de aculturamento”.
Oportunidade de crescimento para todas as idades
Esse também é o caso da WK, empresa referência em softwares de gestão empresarial (ERP). Pioneira, desde 1993 a organização tem um Programa de Formação Remunerada para desenvolvimento de talentos, que formou 100% da gestão da área técnica da companhia. No último ano, 28 estagiários foram efetivados, e 67% dos desenvolvedores atuais foram formados “em casa”.
A idade mínima para se candidatar a uma vaga é de 18 anos, mas a WK não tem nenhuma restrição de idade para os participantes. Uma das últimas turmas, inclusive, contou com um aluno de mais de 40 anos: Marcelo Kuhn. Aos 44 anos, ele tinha o sonho de trabalhar com tecnologia e não teve medo de “dar um passo atrás” para entrar no setor.
Marcelo conta que sentiu que precisaria de uma “reciclagem” e de um bom treinamento, e encontrou essa possibilidade no programa de formação da WK. “A iniciativa é bem estruturada e bastante intensa. A gente aprende muito um com o outro, e o ambiente de trabalho é muito bom. E o mais bacana é que o fato de eu já ter uma carreira não foi um impeditivo para que eu começasse da base de novo”, comenta.
Para Cláudia Rutzen, diretora administrativa da WK, ter essa diversidade de idades nas turmas demonstra a força que o mercado de TI está ganhando. “Esse projeto é um orgulho imenso para os nossos fundadores, porque ele trouxe para a área de tecnologia profissionais das mais diversas áreas que, antes, não encontraram espaço para crescimento ou atuação profissional. Nós percebemos um movimento cada vez maior de pessoas mais velhas migrando para essa área e ficamos muito felizes de contar com esses profissionais nas nossas turmas de formação, porque não só contamos com pessoas qualificadas e experientes no mercado de trabalho como também ajudamos na realização de um sonho antigo”, declara.