Gerar energia limpa, sem agredir o meio ambiente, e ainda com grande potencial de negócios. Este é o cenário das energias renováveis e sustentáveis, solar (fotovoltáica) e eólica, que já estão em fase madura de desenvolvimento no Rio Grande do Norte, com várias empresas investindo e operando no estado. Situado na curva do continente sul-americano, onde os ventos costumam ser generosos, e conhecido mundialmente como o Estado que tem sol o ano inteiro, o RN desponta como um provedor natural destas novas fontes de energia.
Projeções da Associação Brasileira de Geração Distribuída apontam que em 2040, daqui a duas décadas, só a energia impulsionada pelo sol vai representar 32% da matriz energética brasileira. O impacto desta nova forma de gerar energia tem atraído o Poder Público. O papel do governo neste ecossistema sustentável de energias, em especial a eólica, que se instalou em solo potiguar antes da solar, investimentos e tecnologias, conquistas e desafios serão discutidos durante o 10º Fórum Eólico - Cartas dos Ventos +10, em julho.
Segundo dados do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia - CERNE, o RN conta com 136 parques eólicos em operação comercial com potência instalada total de 3.678 gigawatts (GW), o que representa 84,76% da matriz energética de todo o estado. Há também 6 usinas fotovoltaicas, num total de 117,10 MW e ainda 32 usinas termelétricas. Há 16 parques eólicos sendo construídos no RN, totalizando 381 megawatts (MW) e outros 13 parques (somando 330,3 MW em potência instalada) prestes a começarem suas obras. Nessas condições, o estado continua líder nacional em geração eólica.
Nordeste
Oito de cada dez parques instalados no Brasil estão no Nordeste. Na região mais pobre do país, os ventos estão entre os mais ricos do mundo. Eles são fortes, constantes e unidirecionais, o que potencializa o trabalho dos aerogeradores. Desta forma, as máquinas não precisam mudar de posição o tempo todo para buscar o vento mais adequado do momento. Em alguns meses do ano, a geração de energia pela força dos ventos garante 60% do abastecimento de todo o Nordeste.
Ranking
Os três estados que lideram o ranking da produção eólica nacional são Rio Grande do Norte (3,6GW); Bahia (2,5GW) e Ceará (1,9GW). O quarto colocado é o Rio Grande do Sul, com 1,8GW. Por estado, o RN fechou na liderança da produção eólica no país, com 1.455,3 MW de energia entregues no ano passado, um incremento de 20,7% em relação ao mesmo período de 2016. A maior parte delas se concentra na região do Mato Grande, onde se localizam as cidades de João Câmara, Parazinho, São Miguel do Gostoso, Jandaíra, Pedra Grande e Rio do Fogo.
Investimentos
O Rio Grande do Norte foi o segundo do Brasil com o maior número de projetos contratados no leilão de energias renováveis realizado em dezembro do ano passado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e deverá receber investimentos de aproximadamente R$ 1,8 bilhão. Especialistas apontam que apenas um terço do potencial eólico foi explorado até o momento no estado, que até 2003 estava na estaca zero no tocante a produção energética.
Desde 2010, o RN é autossuficiente em geração de energia, somando eólica com termelétricas e biomassa, e em 2015 tornou-se autossuficiente em geração eólica – atualmente, produz o dobro do que consume (média de 800 megawatts). De acordo com projeções do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia - CERNE, a expectativa é que o RN atinja a marca de 5 gigawatts (GW) de capacidade instalada de energia eólica nos próximos quatro anos.
Energia Solar
O RN é um dos estados que possui maior potencial de geração de energia solar, em especial, via células fotovoltaicas, que aproveitam diretamente a luz solar. "Quando a ABGD foi criada, em 2015, contávamos com 14 empresas associadas. Agora, em 2018, já são 420, um crescimento considerável em pouco tempo", destaca Paulo Sérgio de Morais, representante da Associação Brasileira de Geração Distribuída no Rio Grande do Norte.
De acordo com o advogado e economista Jean-Paul Prates, Diretor-Presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE), o estado conta, atualmente, com seis usinas fotovoltaicas em operação comercial, cuja potência instalada é de 117,10 MW. "A matriz de oferta de energia do Rio Grande do Norte tem 84,76% de usinas eólicas, 2,79% de fotovoltaicas e 12,44% de termelétricas", conta o especialista. "O estado tem atraído o interesse de investidores para geração de grande porte e deverá apresentar um número crescente de projetos fotovoltaicos nos próximos leilões federais", aposta.
Ainda segundo Prates, no Brasil, o recurso solar é bem mais difuso e capilarizado do que o vento (energia eólica). "O mapa de potencial solar do Rio Grande do Norte aponta regiões como o Seridó (potiguar e paraibano) e a nossa 'tromba do elefante' (no Alto Oeste) como áreas de insulação máxima", destacou Prates, em entrevista ao jornal Tribuna do Norte.
Em quatro anos, o RN ampliou em mais de 4.000% a sua capacidade instalada de geração em energia solar fotovoltaica distribuída. O estado passou de 56 kilowatts em 2013 para 2.219 kw no primeiro semestre de 2017. Em dezembro do mesmo ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a operação comercial da usina solar Assu V, adicionando à matriz energética do estado mais 30 MW de capacidade instalada. O empreendimento ocupa uma área de 72 hectares em Assu/RN e teve investimento de R$ 220 milhões. Certificada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a usina vai gerar, além de energia renovável, créditos de carbono ao evitar a emissão de mais de 46 mil toneladas de CO2 por ano.
Negócios
Além dos benefícios para o meio ambiente, a energia solar tem um potencial enorme para gerar negócios. "Se tem o mercado querendo comprar, se tem essa solução de geração de energia, se tem a demanda e o mercado consumidor e se consegue gerar energia mais barato do que se compra hoje, então é, sem dúvida, uma oportunidade de negócios", afirma Sérgio Azevedo, presidente da Comissão Temática de Energia Renováveis (Coere) da FIERN.
De olho neste mercado em rápida expansão, Órgãos de fomento, como o Sebrae e o Banco do Nordeste, já criaram projetos para financiar e desenvolver o crescimento das empresas no segmento. Só em 2017, o BNB aprovou 59 operações de crédito no RN e para 2018 o banco tem capacidade de triplicar o volume de financiamento. "Financiar esse tipo de iniciativa, que engloba a sustentabilidade, é exatamente o que buscamos. Aumentar a matriz energética brasileira, com uma fonte sustentável e de pouco impacto é uma das formas de fazer isso", disse Fabrizzio Feitosa, superintendente do Banco do Nordeste em Natal. De acordo com informações do BNB, em 2018 o banco terá R$ 1,7 bilhão disponíveis para os mais diversos tipos de financiamentos, a maior aplicação da história.
Regulação Normativa
A ANEEL criou em 2012 a Regulação Normativa 482/12, que regula o mercado de sistema de energia sustentável conectados na rede elétrica. Desta forma, incentivando o uso dessas fontes no Brasil. Basicamente, a RN 482 de 2012 permite a troca de créditos de energia com a rede da distribuidora, produzindo a sua própria energia elétrica; o excesso vira um crédito para ser utilizado em um dia que o sistema produza pouca energia (como durante a noite que não tem sol ou em um dia que não tenha vento – no caso da eólica).
Este foi sem dúvida o maior e mais importante incentivo ao uso de energias sustentáveis no Brasil. O sistema de ‘compensação de créditos’ criado pela ANEEL baseia-se nos modelos internacionais utilizados na Europa, EUA, Austrália, Índia e Ásia como um todo.
NÚMEROS
EÓLICA
Parques Eólicos
NO BRASIL502
Potência instalada em produção134
Potência em construção91
Potência contratada
NO RIO GRANDE DO NORTE131
Potência instalada em produção21
Potência em construção13
Potência contratadaPotências Eólicas
NO BRASIL12,352,239 MW
Potências instalada em produção2,989,450 MW
Potências em construção1,991,610 MW
Potências contratada
NO RIO GRANDE DO NORTE3,552,656 MW
Potências instalada em produção507,900 MW
Potências em construção330,300 MW
Potências contratada
SOLAR
Potência solar fotovoltaica instalada e em operação
NO RIO GRANDE DO NORTE1,105 MW
Potências instalada em operação2
EmpreendimentosPotência solar fotovoltaica em construção
NO RIO GRANDE DO NORTE116
Potência em construção4
EmpreendimentosPotência solar fotovoltaica contratada com construção não iniciada
NO RIO GRANDE DO NORTE96,00 MW
Potências instalada em operação3
Empreendimentos
FONTE: ANEEL | CERNE | SEERN 2017