A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano subiu de 6,07% para 6,11%. A informação é do Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, que traz os principais indicadores econômicos. Segundo o BC, para 2022 a estimativa de inflação é de 3,75%. Para 2023 e 2024 as previsões são de 3,25% e 3,16%, respectivamente. A economista do Sistema FIERN, Sandra Cavalcanti comentou o que causou a alta da inflação e como esses dados impactam na economia.
Ela diz que com a crise da pandemia sobre a economia, todas as cadeias de produção pararam. “A medida que as atividades foram retomadas começou a faltar insumos e matérias-primas para as cadeias produtivas, o que fez com que os preços disparassem. Também as commodities no mercado internacional, o petróleo, o minério de ferro, a soja, tudo isso pressionou a inflação. Outro fator que contribuiu para a alta dos preços internos, segundo a economista, foi a desvalorização do real em relação ao dólar nos últimos meses, que, por si só já tornam os preços das importações mais elevados, contribuindo, portanto para o aumento da inflação ”, explica.
O cálculo para 2021 está acima da meta perseguida pelo BC. A meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior de 5,25%. No mês passado, a inflação desacelerou para 0,53%, depois de chegar a 0,83% em maio. Com o resultado, o IPCA acumula alta de 3,77% no ano e 8,35% nos últimos 12 meses.
A economista diz que, na prática, o custo do dinheiro vai ficar mais caro. “Os juros dos bancos que vão emprestar às empresas e às pessoas, os de financiamentos. Então, se a empresa necessita de empréstimo para capital de giro ou investimento, ou se você quer comprar a prazo, o dinheiro também vai ficar mais caro. E isso tem forte consequência para recuperação da economia. O consumo pode ser freado, assim como a atividade econômica em geral.
“Apesar de tudo, a economia vem reagindo bem. Mas, não só os juros são ameaça ao crescimento, há outros fatores que indicam que essa recuperação pode se tornar mais lenta. Há por um lado a reação da economia, com a vacinação em andamento, mais otimismo; mas também há para as empresas fatores negativos que são ameaçadores. Como por exemplo, o preço das matérias-primas, em desaceleração, porém ainda muito alto. Tem também o auxílio emergencial com valor inferior ao do ano passado e disponível para um menor número de pessoas, o que limita a capacidade de consumo da população em meio à crise’, descreve Sandra. Outros fatores limitantes mencionados à atividade das empresas foram o aumento do custo dos combustíveis, que estão atrelados aos preços petróleo em alta no mercado internacional, os da tarifa de energia elétrica, que entra em bandeira vermelha por conta da crise hídrica e há, ainda a demora e polêmicas em torno da reforma tributária, que os agentes já tinham como certa há uns meses atrás”, afirma.
Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, estabelecida atualmente em 4,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para o mercado financeiro, a expectativa é que a Selic encerre 2021 em 6,63% ao ano. Para o fim de 2022, a estimativa é que a taxa básica suba para 7% ao ano. E tanto para 2023 como para 2024, a previsão é 6,50% ao ano.
O Copom aumenta a taxa básica de juros com a finalidade de conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas podem dificultar a recuperação da economia. De acordo com Sandra Cavalcanti quando o Copom reduz a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. “Este foi um dos fatores que fizeram a economia reagir rapidamente à primeira onda da pandemia. Mas entre janeiro e junho de 2021, a inflação oficial, medida pelo IPCA e acumulada em 12 meses, saltou de 4,56% para 8,55%; e os juros do Banco Central, de 2% para 4,25% ao ano. Portanto, os juros na ponta, que os bancos vão cobrar dos tomadores de empréstimos também vão aumentar”, acrescenta.
Quanto ao PIB e o câmbio, as instituições financeiras consultadas pelo BC aumentaram a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano de 5,18% para 5,26%. Para 2022, a expectativa para Produto Interno Bruto (PIB) é de crescimento de 2,09%. Em 2023 e 2024, o mercado financeiro projeta expansão do PIB em 2,50%. A expectativa para a cotação do dólar variou de R$ 5,04 para R$ 5,05 ao final deste ano. Para o fim de 2022, a previsão é que a moeda americana fique em R$ 5,20.
FIERN (Por Jô Lopes, Cris Vidal e Sandra Cavalcanti)