O Rio Grande do Norte nunca teve uma tradição no plantio de alho. Experiências com o cultivo da hortaliça no município de Governador Dix-Sept Rosado, região de Mossoró, não vingaram a ponto de colocar o RN no mapa da produção, cuja dominância é dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás, que concentram 90% da produção nacional. Mas desde 2015, a região serrana potiguar tem demonstrado um potencial promissor para algumas variedades em função de um clima mais temperado, e o município de Portalegre, distante 369 quilômetros de Natal, tem se mostrado precursor no plantio de alhos nobres em escala comercial.
Com as importações do produto em alta, sobretudo da China, o cultivo dessa planta da família das aliáceas – a mesma da cebola, alho-poró e cebolinha – se apresenta como opção lucrativa para pequenos agricultores da região devido à demanda do mercado. As duas variedades cultivadas no município possuem mais sabor e valor agregado que o alho importado comumente vendido nos supermercados.
O início da produção só foi possível devido a uma parceria entre a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Hortaliças, Prefeitura Municipal de Portalegre e o Sebrae no Rio Grande do Norte, que estabeleceram, em 2018, um termo de cooperação técnica para implantação do Projeto de Desenvolvimento da Cultura do Alho em Região Serrana do Rio Grande do Norte.
Porém, as primeiras análises da viabilidade ocorreram ainda em 2015, quando pesquisadores da universidade realizaram as primeiras plantações experimentais na região e confirmaram a possibilidade do cultivo em algumas áreas da serra, cujas altitudes chegam até 800 metros acima do nível do mar. O trabalho é coordenado pela professora da Ufersa, Maria Zuleide de Negreiros.
Plantações
A hortaliça está sendo cultivada nos sítios Tibau, Jenipapeiro, Encruzilhada e Santo Antônio, além de uma área da Associação dos Produtores Rurais de Portalegre (APRUP), que mantém um telado (espécie de estufa) para cultivo das sementes que servem para a safra seguinte. Para se ter uma ideia do potencial da região, basta saber que, somente entre 2018 e 2019, foram produzidas e comercializadas aproximadamente 30 toneladas de alho. Neste ano, o cultivo começou no mês passado e a estimativa é que a colheita já ocorra entre o final do agosto e início de setembro.
As espécies plantadas, mais resistentes a vírus, são o alho nobre - que se diferencia por ter um sabor incorpado, gourmet e, por isso, bastante apreciado por chefs de cozinha e proprietários de restaurantes – e o alho cateto roxo, que é precoce e destinado principalmente às indústrias de beneficiamento de temperos e também ao consumidor final.
Essas variedades são comercializadas em média por R$ 20,00 cada quilo, valor que é mais elevado que o alho comum, importado da China. “Acaba sendo diferenciado por ter um melhor preço para o produtor e também mais atrativo para o consumidor final, porque devido ao sabor mais acentuado, termina rendendo mais”, explica o gerente do Escritório Regional do Sebrae no Alto Oeste, Rodolfo Barreto.
Um dos produtores de alho é Hermes Dias, que também é gerente de agricultura do município. No ano passado, ele chegou a manter 36 canteiros – cada um com 20 metros quadrados de cultivo da hortaliça. Mas, em 2020, houve uma redução da área cultivada, muito em função da pandemia que impediu o acompanhamento in loco dos técnicos. “Está sendo um ano atípico, devido ao novo coronavírus. Estamos com apenas 15 canteiros cujo foco é a produção de sementes pensando na safra do próximo ano”, diz o produtor.
Segundo Rodolfo Barreto, a meta do Sebrae-RN para este ano é trabalhar o escoamento da produção e a abertura do mercado para esses produtores. “Queremos fazer um trabalho para que essa produção chegue a restaurantes e outros estabelecimentos, além de capacitar produtores para o beneficiamento, gerando produtos diferenciados de valor agregado". Segundo o gerente do escritório em Pau dos Ferros, outro objetivo é ampliar o número de produtores na serra para oferecer mais uma opção de cultivo e renda para os pequenos produtores na região.
Agência Sebrae