Sede do Banco Central em Brasília: aumento de gastos pode influenciar trajetória dos juros.
Crédito: Agência Brasil

Para economistas, BC deve manter juros a 13,75%, mas com alerta para inflação futura

 

O Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) anuncia nesta quarta-feira (1º) a primeira decisão do ano sobre a Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.

É consenso entre economistas que a autoridade monetária deverá manter a Selic nos mesmos 13,75% em que está desde agosto do ano passado. É a taxa mais alta desde 2016.

Há, porém, uma piora das expectativas dos agentes de mercado para a inflação futura, conforme o governo de Luiz Inácio Lula da Silva avança com uma agenda que sinaliza para maiores gastos, e isto deve começar a aparecer nos comentários do BC sobre o futuro da Selic.

“Temos uma atividade que deu sinais de desaceleração, o cenário internacional também está um pouco melhor para o Copom”, disse o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, citando a perda de força da inflação global depois de altas recordes em vários países e uma onda de aumento de juros nas principais economias do mundo.

Isto, por um lado, explica, dá um alívio aos juros brasileiros. “Mas, por vários fatores, temos as expectativas para a inflação mais longa [no Brasil] começando a se descolar mais da meta, e o Copom deve colocar isso no seu balanço de risco”, acrescentou Lima.

A projeção da Western, que, até fim do ano passado, falava em uma Selic perto de 11% ao final de 2023, foi revisada para 12,25%. “A queda [dos juros] só deve começar a acontecer lá pelo final do ano”, disse Lima.

Pelo Boletim Focus, relatório semanal do BC que acompanha as expectativas de mercado para os principais indicadores econômicos, as projeções para a inflação vêm subindo nas últimas semanas para todos os anos até 2026, data mais longa captada pela pesquisa.

Para 2024 e 2025, anos em que a meta de inflação será de 3% e que contemplam o “horizonte relevante” para o qual o BC olha ao decidir agora a taxa de juros, as projeções de mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram para 3,90% e 3,50%, respectivamente, nas últimas duas semanas.

Para 2023, também em alta, a projeção média de mercado é de um IPCA a 5,7% ao fim do ano, o que significa que, pelo terceiro ano seguido, a inflação deve desrespeitar tanto o centro quanto o teto da meta que o BC deveria cumprir.

Para 2023, a meta para a inflação é de 3,25%, com tolerância entre 1,75% e 4,75%.

“A combinação de um fiscal mais expansionista e do risco de mudanças na política monetária acabou levando a esse aumento das projeções de mercado, principalmente para 2024, e a gente sabe que isso tem impacto na política monetária atual”, disse a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória. “Na prática, isso significa Selic mais alta por mais tempo.”

O Inter trabalha com uma Selic a 12% ao fim de 2023, enquanto aumentou sua projeção para o IPCA de 5,1% para 5,4% no fechamento do ano.

Entre os episódios mencionados pelos economistas para o aumento das tensões, estão os sucessivos movimentos de aumento de gastos desde o ano passado, com a PEC dos Benefícios, em julho, e a PEC da Transição, que ampliou o Orçamento de 2023 para o governo Lula no início do ano.

Mais recentemente, Lula precipitou as preocupações de investidores e analistas do mercado financeiro ao criticar as atuais metas do país para a inflação, que, em sua visão, estariam muito baixas.

“O Copom (…) deve endurecer os termos para dar mais ênfase aos riscos de alta da inflação pelo ponto de vista fiscal e das incertezas criadas por autoridades do governo em relação à política monetária”, disse o Credit Suisse em relatório a clientes, citando as “indicações de que pode aumentar a meta de inflação” e os questionamento feitos pelo presidente “sobre os benefícios de um banco central autônomo”.

Em relatório a seus clientes, a equipe econômica da XP, que também acredita na manutenção da Selic nos 13,75% nesta quarta-feira, destacou o contraste entre a inflação atual mais favorável e as expectativas para os preços no futuro mais pressionadas.

“A desinflação global e a desaceleração da economia doméstica devem manter a inflação ao consumidor em trajetória de queda”, diz o relatório, assinado pelo economista-chefe da XP, Caio Megale, e pela economista Tatiana Nogueira.

“No entanto, a expansão fiscal sinalizada pela emenda constitucional aprovada recentemente já pressiona as expectativas de inflação, aumentando o desafio da política monetária. Esperamos que o Copom reforce este risco em sua comunicação oficial esta semana.”

Com informações da CNN Brasil

  Revista Negócios
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