Questões relacionadas à saúde emocional ganharam maior visibilidade após a principal atleta dos Estados Unidos desistir de quatro finais da ginástica artística nas Olimpíadas de Tóquio (individual geral, salto, barras assimétricas e solo). A decisão de Simone Biles, que optou por priorizar o autocuidado, acendeu um alerta para a inexistência de ações contundentes para minar os efeitos negativos da pressão e do estresse na saúde mental dos atletas. Mas esse não é um problema exclusivo das competições de alto rendimento.
Sempre que uma equipe ou atleta fica emocionalmente abalado, ele tende a perder a disputa. No mundo corporativo é igual. Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, o burnout e problemas de saúde emocional têm se tornado algo comum. E se a saúde mental de um indivíduo não estiver bem, suas chances de sucesso diminui. Afinal, todo desafio – seja ele nas Olimpíadas ou dentro de um escritório – exige preparo emocional adequado.
Muito se fala sobre prevenção quando a questão é saúde física. Diversas empresas saíram numa corrida para oferecer aos colaboradores benefícios como academia e ginástica laboral. Isso já é extremamente importante, um grande passo, mas acredito que o pedido que as pessoas estão fazendo é sobre ter mais qualidade de vida, integrando o cuidado com saúde física, emocional e financeira, como pilares para um bom equilíbrio. Somente a partir de um bem-estar maior, podemos ver os resultados.
Simone Biles deu uma lição ao mundo todo ao dizer que é preciso colocar sua saúde mental em primeiro lugar porque do contrário, aquilo que se ama fazer já não será mais prazeroso, você não será tão bem sucedido quanto gostaria. E está tudo bem desistir de grandes competições e focar na sua saúde mental e física, porque isso é o que realmente mostra a sua força e te prepara de verdade para crescer.
Quando traduzimos isso para o mundo corporativo, sabemos que ainda há uma cultura muito forte que inibe as pessoas de mostrarem suas fraquezas, mostrarem que são humanos. Acham que trabalhando até meia noite a chance de perder o emprego, em um país com tanta desigualdade, diminui. Mas a custo de que? Esse foi o ponto levantado por Biles: que nada no mundo vale o seu bem-estar físico e emocional. Nem uma Olimpíada. Saúde é tudo. Mas o acesso à saúde de qualidade, ainda é um privilégio de poucos.
Quando falamos em oferecer cuidado a um colaborador, não se trata de dar só uma coisa ou outra. É um conjunto de fatores, incluindo benefícios específicos de saúde ou não, que juntos ajudam a formar o equilíbrio necessário. O funcionário precisa ser ensinado a se cuidar corretamente, com o apoio de bons profissionais multidisciplinares de saúde. Hoje, já é possível tudo isso na palma da mão, com muita qualidade, menor custo e ainda gera economia para a empresa. Um estudo da Organização Mundial da Saúde mostrou que o bem-estar é lucrativo: para cada 1 dólar investido em tratamentos de saúde mental, como ansiedade e depressão, há um retorno de 5 dólares em saúde e produtividade.
O objetivo agora é desmistificar e encarar de frente os problemas relacionados à saúde mental, que são uma realidade. No mundo corporativo, um primeiro passo é pensar em ações educativas que gerem um aculturamento em relação ao diálogo aberto sobre o tema. Uma empresa que possui uma cultura de pró-ajuda e transparência, assim como o hábito de conversar sobre saúde mental de forma aberta, gera nos colaboradores a percepção de que o bem-estar deles é uma preocupação genuína.
Empresas que fazem reuniões semanais para analisar os resultados e a produtividade podem passar a promover, também, reuniões semanais para saber como cada colaborador está se sentindo. Hoje em dia, é preciso pensar em uma produtividade humanizada e saudável para que seja possível continuar produzindo bem e a longo prazo. Caso contrário, o resultado será um provável burnout, com prejuízos tanto para a empresa quanto para o colaborador.
*Fábio Tiepolo é CEO da Docway, startup brasileira referência em soluções de saúde digital para empresas e operadoras de saúde