Crédito: Tânia Rêgo | Agência Brasil

Municípios com ganho no PIB têm economia ancorada em commodities

SEX. 13 DEZ

A pesquisa Produto Interno Bruto dos Municípios 2017 (PIB dos Municípios), divulgada nesta sexta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), verificou, com base em dados estruturais, que de 2016 para 2017 os maiores recortes em que se observa as grandes diferenças de participação ou posição relativa vêm de municípios ou regiões em que a economia está muito ancorada em commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional). “Aí é interferência direta de preço”, apontou a gerente de Contas Regionais do IBGE, Alessandra Poça. O PIB engloba todos os produtos e serviços fabricados no país.

Entre 2016 e 2017, os municípios com maior ganho em valor absoluto em relação ao PIB brasileiro foram Maricá (RJ), Parauapebas (PA), Ribeirão Preto (SP), Niterói (RJ) e Goiana (PE). Todos tiveram aumento de 0,1 ponto percentual. Em Maricá e Niterói, o ganho de participação resultou da extração de petróleo, beneficiada pelo aumento de preço no mercado internacional. Já em Parauapebas, a extração de minério de ferro explicou o aumento em valor do PIB. Em Ribeirão Preto, o ganho se deveu às indústrias de transformação e ao comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, enquanto em Goiana resultou da expansão da produção da indústria automobilística.

Em contrapartida, apresentaram as maiores quedas de participação os municípios de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), São José dos Campos (SP), Belo Horizonte (MG) e Betim (MG).

A pesquisa revela, ainda, que Curral Novo do Piauí (PI) foi o município que mostrou o maior avanço entre os anos de 2016 e 2017 (evoluiu +3.400 posições), influenciado pela indústria de geração eólica. O maior recuo (-2.208 posições) ocorreu em Morro da Garça (MG), devido à redução na atividade de extração vegetal (silvicultura).

A análise do período compreendido entre 2002 e 2017 reforça que os grandes municípios (São Paulo e Rio de Janeiro) vêm perdendo participação e os menores, ganhando. “Eles vêm aumentando o PIB (Produto Interno Bruto - soma das riquezas do país), mas ganham bem menos participação que os demais municípios. A gente percebe um esvaziamento mais econômico”, indicou Alessandra Poça. São Paulo perdeu 2,1 pontos percentuais de participação na economia nacional, devido à redução relativa de atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados; já a capital do Rio de Janeiro teve perda de 1,2 ponto percentual porque seu peso na indústria nacional foi reduzido.

O maior ganho de participação no período foi encontrado em Osasco (SP), com aumento de 0,3 ponto percentual, em função principalmente das atividades de serviços, notadamente no comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas e em atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados.

PERFIL ECONÔMICO - A pesquisa do IBGE constatou que as principais atividades econômicas em 2017, em 2.741 municípios, correspondentes a 49,2% dos municípios brasileiros, foram administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social, que ultrapassaram 90% nos estados do Acre, de Roraima, do Amapá, Piauí, da Paraíba e do Distrito Federal. Essa atividade engloba os serviços governamentais, mas não entra recebimento de pensões ou aposentadorias, ou seja, os serviços prestados de fato pelo governo. “A gente observa que administração pública ainda é importante para a maioria dos municípios”, destacou Alessandra, em entrevista à Agência Brasil. Por outro lado, no estado de São Paulo, somente 9,3% dos municípios apresentaram essa característica.

Excluindo administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social, o grupo de demais serviços foi a principal atividade de 3.740 municípios em 2017, seguido da agricultura, com 910 cidades. Comparativamente a 2002, observa-se redução do número de municípios que tem como atividade principal agricultura ou pecuária. Por outro lado, subiu o número de municípios com maior pesos dos demais serviços.

Na agropecuária, a pesquisa do IBGE registrou que, em 2017, um quarto do valor adicionado bruto se concentrava em 165 municípios, com destaque para as regiões Sul e Centro-Oeste (96 municípios, ou 58,2% ancorados na produção de soja, algodão herbáceo e arroz em grão). A avaliação baseada nas 15 regiões rurais com maior valor adicionado bruto destacou as regiões rurais da capital regional de Passo Fundo/RS e da capital regional de Cascavel/PR, onde a produção agropecuária respondeu por 17,1% e 15%, respectivamente, das duas economias. Por região rural se entende um conjunto de municípios em que um deles é o polo urbano que movimenta a produção, onde se compram insumos e onde está a parte distribuidora dessa produção.

A agropecuária no Brasil representa cerca de 5% do valor adicionado, que é o valor adicional que adquirem os bens e serviços ao serem transformados durante o processo produtivo. “Ela tem um valor baixo no total mas, quando a gente olha só a atividade e vê os maiores valores da agropecuária, identifica muitos municípios relacionados a commodities, como soja e algodão, e muito concentrado no Centro-Oeste do país, ainda caracterizado por uma grande área. É uma produção extensiva também”, comentou a gerente de Contas Regionais do IBGE.

A pesquisa evidencia que 14 das 15 regiões rurais com maior valor adicionado bruto tiveram como atividade central a lavoura temporária, basicamente hortifrutigranjeiros voltados para o mercado consumidor doméstico e não para a exportação. Das 15 regiões rurais, os maiores valores adicionados brutos foram encontrados principalmente no Sul e no Sudeste do Brasil, grande parte das quais tendo a soja e a cana-de-açúcar como principais atividades. “A gente sai um pouco do Centro-Oeste e vai para o Sul e Sudeste”. Olhando o valor adicionado e dividindo pela área, vê-se que a região rural da grande metrópole nacional de São Paulo detinha a mais elevada densidade econômica. Em seguida, vinham as regiões rurais das metrópoles nacionais.

INDÚSTRIA - Na parte referente à indústria, a pesquisa do IBGE revela que 20 municípios concentravam um quarto de seu valor adicionado bruto, sinalizando um nível de concentração maior que na agropecuária. A capital paulista manteve a primeira posição, concentrando 4,9% em 2017, contra 8,1% em 2002.

Com 2,7%, o Rio de Janeiro ocupou a segunda classificação, seguido de Manaus (2,1%), em razão da Zona Franca.

Em 2017, 13 dos 20 municípios de maior participação estavam na Região Sudeste, sendo oito paulistas. Três municípios ficavam no Sul do país; dois eram da Região Norte; e Nordeste e Centro-Oeste tinham um município cada.

SERVIÇO - Excetuando administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social, o estudo do IBGE mostra que três municípios somavam quase um quarto do total da atividade de serviços em 2017, no país. São eles: São Paulo (SP), com 15%; Rio de Janeiro (RJ), com 5,7%; e Brasília (DF), com 3,4%.

Os 38 municípios com maior participação responderam por metade do total, sendo 19 capitais. Ainda em 2017, 2.036 municípios de menor participação totalizavam 1% desses serviços.

De acordo com a hierarquia urbana, o total dos serviços foi concentrado nas metrópoles (47,7% do valor nacional. A pesquisa mostra ainda que nas metrópoles, os serviços, excetuando administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social, representavam 50,5% do total brasileiro e 33% da população nacional. Já as grandes concentrações urbanas participaram com 46,5% do total dos serviços de administração pública nacional, com destaque para as concentrações de Brasília/DF, com 10,1% da administração pública nacional, seguida do Rio de Janeiro/RJ (8,8%) e São Paulo/SP (7,7%).

GRANDES MUNICÍPIOS - Os 69 municípios de maiores PIBs representavam, em 2017, cerca de metade do total do Produto Interno Bruto nacional (PIB, soma de todos os produtos e serviços fabricados no país) e pouco mais de um terço da população brasileira. É o que revela o Boletim PIB dos Municípios 2017, divulgado hoje (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A gerente de Contas Regionais do IBGE, Alessandra Poça, disse à Agência Brasil que o fato de 69 municípios representarem metade do PIB significa que há uma concentração econômica muito grande e “isso não muda de ano para outro”. O que se observa é que esses grandes municípios, independentemente do recorte que seja dado, vêm perdendo participação a cada ano. “Isso é uma constante. Isso ocorre porque os outros municípios estão aumentando sua economia.” As grandes cidades estão perdendo participação relativa, mas esse processo ainda é uma coisa muito lenta, explicou a gerente do IBGE.

Em 2017, sete municípios brasileiros responderam por quase um quarto do PIB do Brasil e por 13,6% da população. São eles São Paulo (SP), com 10,6%; Rio de Janeiro (RJ), com 5,1%; Brasília (DF), com 3,7%; Belo Horizonte (MG), com, 1,4%; Curitiba (PR), com 1,3%; Osasco (SP), com 1,2%; e Porto Alegre (RS), com 1,1%. Já em 2002, apenas quatro municípios somavam um quarto da economia nacional. Eles eram São Paulo (SP), com 12,7%; Rio de Janeiro (RJ), com 6,3%; Brasília (DF), 3,6%; e Belo Horizonte (MG), 1,6%.

DESCONCENTRAÇÃO - Segundo Alessandra Poça, a ampliação do número de municípios entre 2002 e 2017 permitiu identificar a tendência à desconcentração, com os municípios de menor valor ganhando participação em relação aos de maior valor. Levando em conta os 100 municípios com os maiores PIBs, nota-se que perderam participação no PIB do Brasil entre 2002 e 2017, de 60% para 55,3%. Excluindo as capitais, a perda de participação dos 100 maiores PIBs foi de 27,1% para 26,6%, no mesmo período.

Alessandra Poça disse que, desde o ano passado, a Gerência de Contas Regionais começou a fazer um trabalho conjunto, na parte de análise de dados, com a Diretoria de Geografia, que usou recortes, fazendo regionalizações do território brasileiro conforme as questões geográficas. “Aí a gente está olhando mais a geografia econômica”, esclareceu Alessandra Poça. Acrescentou que o olhar da geografia trouxe mais ferramenta analítica para interpretar os dados.

CONCENTRAÇÕES URBANAS - Olhando-se a distribuição do PIB por concentrações urbanas, que são arranjos de municípios com mais de 100 mil habitantes, com características similares ou uma interação econômica muito forte, constata-se que duas concentrações urbanas responderam por um quarto da produção econômica brasileira em 2017: São Paulo/SP, com 17,3%, e Rio de Janeiro/RJ, com 7,7% do PIB. Já as dez maiores concentrações urbanas, ou agregados de municípios, respondem por cerca de 43% do PIB nacional, ou R$ 2,838 trilhões (São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, Belo Horizonte/MG, Porto Alegre/RS, Curitiba/PR, Campinas/SP, Salvador/BA, Recife/PE e Fortaleza/CE).

Outro conceito geográfico, da densidade econômica, pega o valor do PIB e divide pela área do município ou do arranjo de municípios. Isso significa, por exemplo, que a concentração urbana de São Paulo respondeu por um PIB de R$ 1,139 trilhão, com densidade econômica de R$ 159,230 milhões por quilômetro quadrado (159.230 mil R$/km2). Olhando somente a capital de São Paulo, verifica-se que o PIB em 2017 atingiu R$ 699,288 bilhões, ou 10,6% no PIB do Brasil.

Em 2017, os municípios das capitais representavam 32,4% do PIB nacional, menor participação da série. Em 2002, era 36,1%. “Significa que os demais municípios vêm ganhando participação. A leitura é essa: se a capital perdeu e os 100 maiores (municípios) sem a capital perderam, então o restante está ganhando”, disse Alessandra Poça.

PIB PER CAPITA - Em relação ao PIB per capita, isto é, por indivíduo, a gerente de Contas Regionais do IBGE informou que os dez municípios com os maiores PIB por pessoa somavam, em 2017, 1,5% do PIB nacional e 0,2% da população. Alessandra destacou que o PIB per capita vê a relação entre o PIB do país e a população. “Não necessariamente os maiores PIBs per capita são os municípios de maior valor de PIB, porque a maioria desses municípios tem uma indústria muito atrelada a commodities ou à indústria extrativa, como petróleo e minério, e, mais recentemente, municípios que têm grandes hidrelétricas. Quando a gente pega o PIB e divide pela população, a gente vê um PIB per capita grande; não necessariamente são os maiores PIB”, observou.

O município com maior PIB per capita (R$ 344. 847,17), em 2017, foi Paulínia (SP), em função da indústria de refino de petróleo. Já entre os municípios das capitais, a liderança foi exercida por Brasília, com R$ 80.502,47. A menor posição foi apresentada por Belém (R$ 20.821,46). Em 2017, 13 capitais brasileiras tinham PIB ‘per capita’ maior que o PIB brasileiro (R$ 31.702, 25). Em 2002, esse número era menor (11 capitais). Alessandra Poça ressaltou, porém, que um PIB per capita elevado não quer dizer que a renda gerada está sendo apropriada pela população daquela localidade. “A gente não consegue enxergar essa informação”.

A pesquisa mostra também que 13 grandes concentrações urbanas, com mais de 750 mil habitantes, apresentavam em 2002 um PIB per capita superior à média nacional. Brasília ocupava a primeira posição, naquele ano, passando para a segunda classificação em 2017, depois de Campinas. Em 2017, as grandes concentrações urbanas com PIB por pessoa maior que a média nacional incluíram Cuiabá/MT.

Tomando por base a hierarquia urbana dos municípios, observa-se que quanto maior a hierarquia, maior o PIB per capita. Em 2017, as metrópoles, com PIB por indivíduo da ordem de R$ 42.170, 42, superaram o PIB nacional (R$ 31.702, 25). O mesmo ocorreu com as capitais regionais, cujo PIB per capita alcançou R$ 34.190, 09. As demais classes da hierarquia urbana (centro sub-regional, centro de zona e centro local) tiveram PIB per capita menor que o nacional.

Fonte: Agência Brasil

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