Crédito: Marcelo Camargo | Agência Brasil

Mercado automobilístico projeta mudanças no perfil do consumidor após a pandemia

SEX. 18 SET

O setor automotivo mostra que ganhou tração depois de meses de paralisação na pandemia. Os financiamentos de veículos dão indicativos de melhoria e a oferta de crédito tem contribuído para esse cenário. Para expandir esse debate, a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) realizou um evento que debateu “Financiamento de Veículos: A hora e a vez da retomada”.

Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho), Relações Institucionais da ACREFI, agradeceu aos presentes em nome da entidade. “Essa é uma live de grande importância. Em um momento de pandemia, com profundas transformações, esse é um debate necessário para entendemos a resiliência do setor”, pontuou.

Luana Bichuetti, Vice-Presidente de Auto da Creditas, entende que o momento é peculiar. “Estamos falando de uma crise econômica, que é derivada de uma questão de saúde pública. Ela traz uma necessidade maior de financiamento para a compra de veículos, mas também existe o medo que compõe esse cenário. A retomada é clara, mas precisa estar alinhada com nossos parceiros – a transação terá valor maior com a compreensão da necessidade dos clientes”, ponderou Luana. “Sempre vai existir aquele consumidor que quer ir na loja, mas agora temos também aquele que se acostumou a comprar pela internet. Então é preciso preparar os lojistas para este novo mercado digital. Ele [mercado] está em expansão e é preciso entender a experiência digital, além da necessidade individual. O momento de retomada é bom, há espaço - e o foco deve ser nessa humanização e construção de relacionamento que transcende uma venda”, diz.

Luana ainda mencionou que a riqueza de dados permitiu evoluir para produtos, inclusive o refinanciamento. “Toda vez que ajudamos um cliente, isso é uma oportunidade. Nem sempre é a venda, pois o refinanciamento também é um produto financeiro. Boas soluções de crédito, que ajudam clientes, colaboram com esse ciclo”, alertou.

Para Luiz Carlos Moraes, Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), o País passou por um momento difícil. “A indústria estimava mais de 3 milhões de veículos, próximo de 10% de crescimento, que estavam sendo trabalhados para venda. Tivemos fechamento de concessionárias e DETRANS e isso trouxe um impacto relevante. Retomamos a produção agora, com mudança do modelo, adaptando as rotinas aos protocolos sanitários. Há fábricas que empregam de 5 mil a 10 mil pessoas, ou seja, é uma logística de cuidado que precisou ser repensada. A partir de maio, a situação melhorou e estamos nos ajustando de acordo com a evolução da demanda, tanto em quantidade como o tipo de modelo (qual perfil, carro de preferência etc.). A indústria está preparada para atender”, afirmou.

Luiz também argumentou que a locação é um mercado em destaque. “A gente vê que esse é um mercado importante em termos de modelo de negócio, até há um movimento diferente do tradicional por conta da pandemia – mais de 500 mil veículos foram vendidos em 2019 neste segmento e, embora esse número sofrerá impacto por conta da pandemia, com certeza será um dado relevante. Temos uma incerteza em relação ao mercado de trabalho - que faz com que o consumidor não contrate um financiamento de longo prazo -, mas com certeza a indústria já passou pelo pior. Estamos observando o mercado para entender como será a retomada”, avaliou o Presidente da ANFAVEA, relembrando que “a indústria mundial vendeu 91 milhões de veículos – e agora com a crise, existe projeção de que desaparecerão 20 milhões desse número no mundo, estando o Brasil inserido neste contexto. – o que dará algo em torno de 70 milhões”.

Alexandre Gil, Head Comercial da Safra Financeira, mencionou que todos precisaram se reinventar no campo dos relacionamentos. “Todo mundo parou em um primeiro momento, mas depois todos reagiram muito rápido. A gente encontrou caminhos, até por meio da tecnologia, para estar perto do consumidor e ultrapassar essas dificuldades. Entendemos que a pandemia jamais poderia nos tirar desse foco – que é o relacionamento com o cliente – e que sempre nos colocou em ritmo de crescimento. O setor reagiu e, em julho, tivemos indicadores parecidos com os do ano passado. Estamos otimistas”, ressaltou.

De acordo com José Mauricio Andreta Junior, Vice-presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE), no início da pandemia tudo era uma incerteza. “Crescemos em agosto 7,35% em relação a julho, mas a Fenabrave projeta uma queda anual de 36% para o setor, comparado com o ano passado. Vamos ter uma nova projeção em outubro, mas avaliamos uma questão positiva: temos uma Selic baixa, uma maior propensão ao crédito e, também por isto, o mercado está fluindo melhor. No começo da pandemia, 70% das vendas estavam em plataformas digitais – hoje temos uma reversão desse quadro: começa pela internet, mas o test-drive e a negociação estão acontecendo nas concessionárias. O mercado está retomando e estamos com viés otimista”, projetou Andreta.

Segundo ele, o novo normal será muito parecido com o antigo normal. “Desde abril, o Decreto que mantém a alíquota zero do IOF sobre operações de crédito contratadas é de extrema importância. Precisamos lembrar que, nos últimos meses, isso colaborou muito para os financiamentos. Acredito em crescimento melhor do que estava previsto”, acredita Andreta.

Rodnei Bernardino de Souza, Diretor de Negócios Veículos do Itaú Unibanco, diz que há espaço para crescer. “Ainda vamos sentir alguns impactos econômicos a médio prazo, há risco de aumento de desemprego e inadimplência, mas todos aprenderam a trabalhar no Brasil em cenário de crise. Temos queda da taxa de juros e inflação baixa, o que vai nos ajudar nesse processo. Os bancos estão preparados, até porque evoluíram em análise de dados, como conceder crédito de forma regionalizada, e conseguem colocar inteligência na concessão para precificar prazo, taxa e entender o perfil de cada cliente. Estamos com boas perspectivas, até por conta dessa curva de aprendizado”, enfatizou.

Souza destacou que há uma migração do transporte público para propriedade, mas isso é uma questão de cenário, de médio prazo. “Ainda há espaço para aquisição no País, até porque a relação é 1 carro para 4 pessoas. O que vamos fazer é estar próximos do cliente, das suas necessidades, do ecossistema de mobilidade e gerando soluções", considerou.

Tadeu Silva, Presidente do Omni Banco & Financeira, menciona que a história da companhia foi marcada pela ousadia. “Somos conhecidos pelo financiamento dos ‘velhinhos’, mas hoje temos uma solução mais ampla e abrangente. "Omni" quer dizer "para todos" e, dessa forma, conseguimos atender os mais diversos perfis. O momento mostrou que, diante da pandemia, houve uma adaptação do perfil de compra de um veículo diante da necessidade de cada cliente. Estamos em um momento de crise, com condições de risco que demanda atenção no crédito, mas há oportunidade nesse mercado para todos”, destacou.

Na visão de Silva, a troca com troco e o refinanciamento são produtos importantes. “Sabemos operar bem nessas plataformas. Não é só a venda que faz diferença, mas entendermos de forma humanizada a necessidade individual de cada um – em razão do momento de vida do cliente”.

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