IBGE mostra desconcentração regional no setor de serviços

QUA. 28 AGO

Divulgada nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Anual dos Serviços (PAS 2017) mostra desconcentração regional entre 2008 e 2017 na estrutura do setor. Essa é uma tendência natural que já era esperada, disse à Agência Brasil a gerente de Análise e Disseminação do IBGE, Synthia Santana. “Você espera sempre desconcentração regional. As pessoas e as empresas estão sempre se deslocando em direção a estados e regiões onde os fatores de produção são mais favoráveis, mais baratos”.

Com isso, o Sudeste perde posição e as demais regiões vão ganhando dinamismo. “Aí você tem um ganho de importância do Centro-Oeste do país e o deslocamento, ancorado na própria estrutura produtiva da região, com grandes produtores agrícolas importantes, o que enfatiza o setor de transportes, as atividades e empresas que estão ao redor daquele polo que está se mostrando bastante dinâmico”.

De acordo com a sondagem do IBGE, o Sudeste brasileiro está desaquecendo, enquanto outras regiões estão ganhando dimensão. A Região Sudeste experimentou, na década compreendida entre 2008 e 2017, queda no pessoal ocupado (de 60,4% do total para 57%), no número de empresas (de 59,3% para 56,4%), no salário pago (de 67,3% para 63,3%) e na receita bruta de prestação de serviços (de 66,2% para 64,3%).

Concentração da receita
Com base na receita bruta de serviços registrada entre as unidades da Federação de cada grande região no decênio compreendido entre 2008 e 2017, verifica-se que o Sudeste concentrou 65,6% da receita de serviços no estado de São Paulo, seguindo-se o Rio de Janeiro (20%), Minas Gerais (11,9%) e o Espírito Santo (2,5%). Enquanto São Paulo subiu 1 ponto percentual (1 pp) em comparação a 2008 e o Rio de Janeiro manteve-se estável, Minas Gerais e o Espírito Santo tiveram quedas, respectivamente, de 0,8 pontos percentuais (pp) e de 0,2 pp.

No Sul, onde ocorreu a mais significativa mudança estrutural no país, o Paraná passou a liderar a geração de receita bruta de serviços na região, com aumento de 2,2 pp, concentrando 39,3% e ocupando o lugar do Rio Grande do Sul, cuja participação caiu 3,7 pp, passando a responder por 35,2% do total.

No Nordeste, a prestação de serviços não financeiros está concentrada na Bahia (31,2%), em Pernambuco (21,3%) e no Ceará (17,1%). Juntos, esses três estados respondem por 69,6% da receita bruta regional de serviços. Todos os estados nordestinos aumentaram sua participação na década analisada, à exceção da Bahia. Synthia Santana informou, entretanto, que mesmo perdendo 4,1 pp em participação, a Bahia ainda é o principal estado em geração de receita bruta de serviços no Nordeste.

Ela disse que o Centro-Oeste, onde a estrutura produtiva é bastante homogênea, se ancora bem no segmento de transportes e nos serviços auxiliares à vocação natural do agronegócio. Tem destaque o Distrito Federal, com 36,2% de participação na receita bruta de serviços gerada na região, concentrada nos serviços tradicionais, apesar da retração de 7,1 pp em dez anos.

Em contrapartida, o estado de Mato Grosso viu sua participação em dez anos aumentar 7,2 pp, passando para 22%, “ancorada nos serviços auxiliares do agronegócio, que impulsiona toda a gama de atividades ao redor”, disse a gerente do IBGE. Segundo ela, 62,1% da receita bruta do Mato Grosso são gerados por transportes. “Então, o setor de transportes responde por 62,1% da receita de transportes em Mato Grosso. Toda a atividade que é impulsionada pelo agronegócio”.

A Região Norte tem no Amazonas e no Pará a concentração da receita bruta regional, da ordem de 36,3% e 37%, respectivamente. A participação do Amazonas caiu 3,6 pp em dez anos. A principal mudança estrutural foi o ganho de 2,4 pp de receita verificado no estado do Tocantins, no mesmo período. “O estado vem se destacando bastante no segmento de comércio atacadista, de centrais de distribuição, de logística. Isso também impulsiona toda a gama de atividades de serviços de apoio”, relatou Synthia. Em 2008, o Tocantins tinha participação de 5,3% na receita bruta de serviços da região e, em 2017, subiu para 7,7%.

Serviços tinha 1,3 milhão de empresas em 2017
A PAS 2017 revela ainda que em 2017 havia no país 1,3 milhão de empresas prestadoras de serviços não financeiros, cuja receita operacional líquida atingiu R$ 1,5 trilhão e o valor adicionado bruto foi de R$ 906,5 bilhões. Essas companhias empregavam 12,3 milhões de pessoas, às quais pagaram R$ 336,7 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações.

A gerente de Análise e Disseminação do IBGE, Synthia Santana, salientou entretanto que embora a economia brasileira tenha se recuperado um pouco da recessão registrada em 2015 e 2016, a atividade de serviços não se recuperou. Analisando dados reais da pesquisa, entre 2016 e 2017 há uma queda real da receita operacional líquida de 0,2% no setor de serviços. “O setor de serviços vem encolhendo”, comentou Synthia. O número de empresas também caiu 1,7% em comparação a 2016.

Entre 2014, no período pré-crise, e 2017, a queda observada na atividade de serviços alcançou 6,9%. De 2015 a 2016, período considerado da grande recessão, alguns setores conseguiram se recuperar, mas o setor de serviços ainda refletiu o cenário de estagnação. O setor de serviços participa na prestação de serviços às famílias e às empresas. “Houve certa recomposição do consumo das famílias que ainda deu algum fôlego para a atividade, mas as empresas ainda estão revendo e replanejando suas atividades, renegociando prazos, planos de investimento e contratos. Tudo isso afeta os setores que são auxiliares à atividade principal da empresa, que seriam as atividades de suporte e prestação de serviços. Essas atividades esperam ainda boas notícias para que possam efetivar suas decisões de investimento e promover o desenvolvimento de suas atividades”, disse Synthia à Agência Brasil.

Transportes
A PAS 2017 analisa o setor dos serviços na década compreendida entre 2008 e 2017. Em valores nominais da época, apurados em 2008, havia no Brasil 831.210 empresas, que responderam por cerca de 9 milhões de pessoas ocupadas, para as quais pagaram em salários, retiradas e outras remunerações R$ 125,58 bilhões. As empresas do setor mostraram valor adicionado bruto de R$ 369,13 bilhões e receita operacional líquida de R$ 665,13 bilhões. Synthia Santana destacou que não é possível se fazer a comparação com os números de 2017 porque somente a partir de 2014 o IBGE contou com um índice apropriado para fazer esses cálculos.

A pesquisa mostra que pela ótica do faturamento, o segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio respondeu pela maior parte da receita operacional líquida do setor. A participação subiu 0,6 ponto percentual, atingindo 29,5% da receita total. Esse resultado foi gerado pela maior participação do transporte rodoviário de carga (+1%) e de armazenamento e atividades auxiliares aos transportes (+0,8%). Já o transporte rodoviário de passageiros caiu 1%. Synthia Santana chamou a atenção que o transporte rodoviário de carga foi beneficiado pelo ‘boom’ (explosão) agropecuário ocorrido no decênio e pela mudança de logística no país, principalmente na Região Centro-Oeste. “Teve uma mudança estrutural bem importante nesse mercado”.

Segundo a gerente do IBGE, o segmento transporte vem ganhando participação. “O modal logístico do Brasil vem se especializando mais no transporte rodoviário. Na comparação com 2008, você vê os serviços de transportes e os serviços auxiliares aos transportes e correio avançando na composição da receita operacional líquida”. Esse segmento estava na segunda posição do ranking em 2008, com 28,9%, e passou para a primeira colocação em 2017 (29,5%). O segmento de serviços de informação e comunicação, que liderava o ‘ranking’ de participação na receita operacional líquida do setor em 2008, com 29,8%, caiu para a terceira posição (22,5%), enquanto os serviços profissionais, administrativos e complementares subiram do terceiro para o segundo lugar em dez anos (de 24,2% para 26,2%).

Desconcentração
“As pessoas também estão se especializando cada vez mais na prestação de serviços mais complexos. E hoje em dia, as empresas estão se especializando nesse tipo de serviços e passando para outras companhias atividades mais específicas. Em vez de concentrar dentro da mesma empresa toda essa gama de produção, elas estão contratando serviços de outras empresas que antes eram prestados dentro delas próprias”, disse Synthia.

A desagregação dos sete segmentos que compõem a atividade de serviços em outras 34 atividades revela que os serviços de alimentação tiveram a maior variação positiva na década pesquisada (+2,5 ponto percentual (pp), correspondendo a 7,8% do faturamento dos serviços em 2017, contra 5,3% em 2008. “Seriam os serviços de alimentação fora de casa que vêm ganhando muito espaço no mercado”. Já telecomunicações foi o destaque negativo, com retração de 7,5 pp, caindo de 18,1% para 10,6% na mesma base de comparação.

Considerando as oito maiores empresas de serviços não financeiros em 2008, verifica-se que elas responderam por 14% da receita operacional líquida total; em 2017, esse número caiu para 9,5%. “Quer dizer que esse mercado está desconcentrando”. A única exceção foi o segmento de outras atividades de serviços, que subiu de 10,2%, em 2008, para 16,6% em 2017. Esse segmento é composto de empresas pequeninas que prestam serviços de coleta e tratamento de esgoto, alguns serviços financeiros, por exemplo. “São empresas de magnitude menor e ainda assim, dentro dessas, a concentração aumentou”.

De acordo com a pesquisa, em outros segmentos específicos observa-se indícios de concentração, quando se consideram sua desagregação em 34 atividades. Apesar de o segmento transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio concentrar somente 15% da receita nas oito maiores empresas, a maioria de suas atividades apresenta concentração elevada: 99,9% em transporte dutoviário, 93,9% em transporte aéreo, 82% em correio e outras atividades de entrega, e 79,6% em transporte ferroviário e metroviário. A lista das atividades mais concentradas é completada por telecomunicações, cuja concentração da receita nas oito maiores empresas alcançou 73,9%.

Emprego e salário
A pesquisa apresenta mudanças de posição importantes em relação ao emprego no setor de serviços. As atividades de serviços profissionais, administrativos e complementares tiveram participação de 40,4%, em 2008. Em 2017, esse número foi reduzido para 39,9%¨, mas empregando 1,3 milhão de pessoas.

Synthia destacou na sondagem o aumento dos serviços prestados principalmente às famílias entre 2008 (21%) e 2017 (22,6%). “Dentro desse segmento, todas as atividades tiveram um ganho importante de participação em dez anos, com exceção de serviços de alojamento”. A maior fatia permanece sendo de serviços de alimentação, com 13,8% do total de pessoas ocupadas no setor, disse Synthia. O setor de alimentação apresentou o maior aumento em número absoluto de pessoal ocupado, que evoluiu de 1,2 milhão de pessoas para 1,7 milhão entre 2008 e 2017.

O salário médio mensal das empresas de serviços caiu de 2,6 salários-mínimos, em 2008, para 2,2 salários, em 2017. A gerente do IBGE avaliou que embora o salário calculado na pesquisa seja em salário-mínimo, que cresceu na década, ainda assim a remuneração média das empresas vem caindo. Não há uma explicação clara para isso. “Seria preciso ver o que está acontecendo dentro de cada segmento dos serviços”.

Todas as regiões brasileiras tiveram queda no salário médio mensal pago aos empregados do setor, sendo que a Região Sudeste ficou acima da média, com 2,5 salários-mínimos, contra 2,9 mínimos em 2008. Em contrapartida, a Região Nordeste paga o menor salário médio desde 2008, quando pagava 1,9 salário-mínimo. Em 2017, esse valor caiu para 1,7 salário-mínimo. Synthia afirmou que isso também está atrelado à especificidade do tipo de trabalho que é desenvolvido dentro dessas regiões. No Sudeste, os serviços são mais rentáveis. A pesquisa revela ainda que no acumulado de 2014 a 2017, as remunerações pagas nos serviços diminuíram 5,3%.

Confiança do setor de serviços cai 1,1 ponto
O Índice de Confiança de Serviços (ICS), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 1,1 ponto de julho para agosto deste ano e atingiu 92,3 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. A queda veio depois de duas altas consecutivas.

Nove das 13 principais atividades do setor de serviços pesquisadas tiveram queda na confiança. O Índice de Expectativas, que mede a confiança nos próximos meses, recuou 2,3 pontos e atingiu 95,3 pontos.

O Índice da Situação Atual, que mede a confiança no momento presente, ficou estável este mês nos 89,4 pontos. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) do setor de serviços caiu 0,6 ponto percentual, para 81,8%.

Segundo o pesquisador da FGV Rodolpho Tobler, o resultado mostra que os empresários voltaram a ficar cautelosos com os próximos meses, enquanto o volume de serviços no momento continua melhorando lentamente. Para ele, a recuperação do setor deve continuar gradual, sem perspectivas de aceleração no curto prazo.


Fonte: Agência Brasil

 

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