Crédito: Lucas França | Sebrae RN

Foco no NE pode ser a saída para marca local alcançar mercados

SEG. 23 MAI

Para uma empresa que produz moda no Rio Grande do Norte, ainda é uma tarefa árdua driblar a barreira do regional e alcançar o mercado nacional. Um dos caminhos possíveis é descobrir o que marca detém de único, peculiar, não apenas investir em produtos bons de qualidade. E o elemento nordestino, intrínseco aos negócios locais, é a aposta mais certeira. A recomendação é da jornalista baiana e diretora de conteúdo criativo da plataforma Nordestesse, Daniela Falcão, que por quase 30 anos foi editora da Revista Vogue Brasil. “Para se chegar a um mercado novo, não basta ter um produto bom, porque milhares fazem produtos bons. É preciso ter uma boa estória para contar. E, comumente, as marcas não sabem contar sua estória”.

Daniela Falcão fala do assunto com muita propriedade, já que abraçou a missão de projetar o talento de empreendedores dos nove estados do Nordeste, com ênfase no design autoral e no resgate de tradições, saberes e matérias-primas da região, nas áreas de moda, design, artes visuais, gastronomia e hotelaria. A plataforma Nordestesse reúne mais de cinquenta profissionais e marcas da economia criativa da região, cujos produtos estão disponíveis no marketplace da Magalu, iniciativa resultante da parceria entre Sebrae e uma das gigantes do varejo nacional com a plataforma nordestina de difusão de marcas novas.

A especialista é mentora de 12 marcas potiguares do ramo de moda autoral, que são atendidas pelo Sebrae no Rio Grande do Norte, e veio a Natal, no último dia 18, participar do Meeting da Moda, evento aberto para empresários do setor promovido pelo Projeto Setorial de Moda do Sebrae-RN. Daniela Falcão ministrou a palestra 'Como uma Marca Regional pode Conquistar o Mercado Nacional', e, ao lado da designer de joias potiguar Sheila Morais, dialogou sobre estratégia e trajetória com empresários potiguares. “Contar, para quem ainda não conhece uma marca, a história, de onde ela vem e como trabalha, é interessante para formar a persona da marca. E, de preferência, usando os atributos que só o Nordeste tem”, ressalta.

Daniela Falcão reforça que há um movimento no Brasil, e no mundo, de valorizar o que é feito à mão. “Usar um pouco mais as artesanias, colocar um detalhe em crochê, um bordado, sem mudar o DNA da marca. O Rio Grande do Norte tem uma vasta riqueza de bordados. As grifes que produzem uma alfaiataria leve, linho, devem explorar isso. Não tem quem saiba, por exemplo, trabalhar tanto o linho no Brasil quanto o Nordeste. A sabedoria de vender uma moda resort já é um grande diferencial”, garante a jornalista.

Isso porque, mais que uma mera peça de roupa, o que consumidores das demais regiões do Brasil buscam é uma grife que retrate diálogos com saberes ancestrais, com as raízes nordestinas, associados a um trabalho autoral de design que faz o produto ter um apelo contemporâneo. “Hoje em dia, o consumidor tem curiosidade para descobrir coisas novas. Acabou a hegemonia de grandes grupos internacionais. A mulher busca novidade para usar, e não uma peça que todos sabem de onde vem. Quer uma peça que as pessoas perguntem: ‘nossa que linda! De onde é?’. Essa mudança de comportamento do consumidor permite muito que pequenas empresas façam sucesso. Vem essa vontade de se conectar com o que é diferente”.

A especialista dá ainda um recado aos novos empreendedores do segmento, que ainda persistem em envergonhar-se de assumirem nordestinos. “Sempre recomendo, não use nomes em inglês. Busque palavras em português e que tragam em sua estética, em sua logomarca, essa história regional, porque isso vai fazer brilhar os olhos das pessoas. Às vezes, é quase que dar autoestima. Assume esse seu lado, não fica com vergonha que você tem de único. Talvez seja a melhor ferramenta de marketing que você vai ter”.

Como a transformação digital já uma realidade e as redes sociais se consolidam como plataformas para fazer negócios, Daniela Falcão também tem um conselho, principalmente para aqueles que caem na cilada da ansiedade e querem expor todas as peças em lojas virtuais no Instagram, por exemplo. “É preciso usar essa excelente ferramenta de vendas de maneira que pare o olho de quem vê. Não adianta colocar todos os produtos no Instagram. Deixa isso para a sua loja física, site ou catálogo. Na rede social, você tem de escolher uma estória que quer contar sua ou da marca”.

Agência Sebrae

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