O Nordeste desponta como um dos grandes líderes na corrida mundial de produção de energia renovável, destino de investimentos do setor privado nos próximos anos. Pensando nas oportunidades que se abrem na região, organizações civis brasileiras lançaram, nesta terça (26), o Plano Nordeste Potência – Mais emprego, Mais Água, Mais energia para o Brasil.
O Plano Nordeste Potência foi apresentado ao presidente do Consórcio Nordeste, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, à secretária estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Inamara Melo, e ao presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Roberto Abreu, e a jornalistas em reunião no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano.
O documento, de 24 páginas, traz recomendações para entes públicos e o setor privado a fim de promover o desenvolvimento verde, inclusivo e justo da região, com base em fontes como o vento, o Sol e a água, além do respeito às comunidades. Elas estão divididas nas seguintes categorias: gestão pública direta; capacitação de mão de obra; participação social; geração distribuída; e revitalização da bacia do rio São Francisco.
Nos próximos meses, o documento será apresentado a candidatos do Nordeste, que podem aproveitar as ideias para debater os caminhos de recuperação econômica do Nordeste pós-pandemia.
O Plano Nordeste Potência resulta de uma coalizão de quatro organizações civis brasileiras: Centro Brasil no Clima - CBC, Fundo Casa Socioambiental, Grupo Ambientalista da Bahia e Instituto Climainfo, com apoio do Instituto Clima e Sociedade.
Mais empregos com cidadania
Cerca de 66 megawatts de potência em energia renovável já foram outorgados no Nordeste, o que equivale a quase cinco vezes a potência da hidrelétrica de Itaipu. Se eles forem implantados, e somados ao crescimento projetado para a geração distribuída, podem ser criados mais de 2 milhões de empregos na região.
O governador Paulo Câmara considerou importantes as recomendações e ofereceu apoio na execução do plano. Ele destacou a necessidade da presença de mão de obra local em todas as etapas do crescente desenvolvimento das energias renováveis no Nordeste. "A natureza precisa de um olhar diferenciado. Estamos vendo muitos desastres ocorrendo com cada vez mais frequência no nosso país e em outras regiões do mundo. Isso é uma reação a anos de destruição. Temos que intensificar a proteção e as boas práticas”, ressaltou Câmara.
“O Nordeste está hoje passando por grandes mudanças. Ao mesmo tempo que as energias renováveis crescem, é preciso garantir que essa expansão seja feita de maneira ordenada, com menos impacto e com bases sólidas para que um mercado de trabalho com empregos bons e qualificados se forme”, afirma Aurélio Souza, do Instituto Climainfo.
Uma pesquisa realizada no primeiro semestre pelo IPEC, a pedido do Plano Nordeste Potência, indica que 64% dos brasileiros concordam que a indústria verde é o melhor modelo para o futuro da economia do Brasil. Para 73% dos brasileiros - e 74% da população do Nordeste - o governo federal e os governos estaduais deveriam considerar como prioridade alta o desenvolvimento de uma indústria verde no país.
Só 12% dos brasileiros prefeririam trabalhar na indústria baseada em combustíveis fósseis. “A sustentabilidade é um tema que veio para ficar, e nessas eleições vai pautar muitos debates, especialmente quando o eleitor olha as oportunidades que podem surgir”, diz Souza.
Mais energia
Atualmente, o Nordeste responde a 20% do total de energia elétrica gerada no Brasil e exporta cerca de 1.000 megawatts para o resto do país. E ainda há potencial para crescimento nessa participação nacional com geração centralizada e descentralizada.
Só a fonte eólica tem outorgados 34,4 gigawatts, sendo que 19,7 gigawatts já estão em operação. Além disso, o Nordeste tem outorgas solares aprovadas que somarão 28,7 gigawatts de capacidade fotovoltaica à região. A geração descentralizada responde por somente um gigawatt no Nordeste, muito longe do potencial.
“A transição energética é fundamental para descarbonizar o planeta, mas deve ser feita com participação da sociedade e levar em conta a justiça social e ambiental das comunidades que podem ser afetadas”, diz Renato Cunha, coordenador executivo do Grupo Ambientalista da Bahia.
A diretora executiva da Fundação Casa Socioambiental, Cristina Orfeu, ressaltou ainda que é preciso dar protagonismo às comunidades locais nos processos que envolvem as tomadas de decisão sobre território. “Nesse sentido, qualquer projeto que envolva as comunidades precisa reconhecer os direitos delas. É preciso que a transição energética seja justa, popular e inclusiva e que leve ganhos para o clima e para o planeta. No entanto, defendemos que todos os direitos das comunidades locais sejam preservados”, afirmou.
Mais água
O Plano Nordeste Potência também indica a necessidade de se investir rapidamente na revitalização da bacia do rio São Francisco. Os reservatórios já existentes podem servir como bateria para as fontes eólica e solar, fornecendo segurança ao sistema nacional e reduzindo o peso de térmicas fósseis na matriz elétrica, que pioram o efeito estufa.
A revitalização precisa levar em consideração os usos múltiplos da água, com uma gestão adequada dos recursos hídricos, além da recuperação do passivo ambiental. Há cerca de 3,3 milhões de hectares que precisam ser recuperados em reservas legais e áreas de preservação permanente.
“Diante das urgências sociais e ambientais do semiárido, com projeções de ondas de calor e secas ainda mais severas, provocadas pelo aquecimento global, é fundamental impulsionar um novo modelo econômico comprometido com a descarbonização, a regeneração hidroambiental e a rápida superação da pobreza. O Plano Nordeste Potência aponta caminhos práticos para saltarmos das energias poluentes e concentradoras de renda para uma nova matriz de energias regenerativas, em modelos descentralizados, que vão orientar a economia em rede do século 21”, resume Sérgio Xavier, do CBC, desenvolvedor do Lab de Economia Regenerativa do rio São Francisco.