Em um cenário de crescente relevância das redes sociais e busca por publicidade e atenção midiática, ter um “low profile” — isto é, um perfil mais discreto, que não procura chamar a atenção — não parece ser uma boa ideia para empreendedores e suas empresas. Normalmente, uma personalidade extrovertida e expansiva é mais associada ao sucesso nos negócios. No entanto, existem vários casos que comprovam que esse pensamento nem sempre reflete a realidade.
O Pinterest, por exemplo, é uma dessas empresas que preferiu crescer de forma discreta, com executivos atuando nos “bastidores”. Ao contrário de seus concorrentes em expansão acelerada, a rede social focou em um crescimento lento e contínuo ao longo dos anos, deixando claro que a qualidade era prioridade no processo. Atualmente, a empresa está avaliada em US$ 39,5 bilhões e, diferentemente de outras redes, não costuma se envolver em polêmicas negativas com relação aos seus conteúdos.
“Acredito que não exista um perfil ideal para empreender. Hoje, por exemplo, temos mais de 40 milhões de empreendedores no Brasil, como aponta o Global Entrepreneurship Monitor 2020. Há os que começam por necessidade, oportunidade ou vocação, há os idealistas e os pragmáticos, os ativos e os low profile, e assim por diante. E cada um tem suas vantagens e seus desafios”. Quem garante isso é João Gustavo Pompeo, fundador e CEO da Eyemobile — empresa que desenvolve um sistema completo de tecnologia para vendas físicas e digitais. Em 2012, depois de trajetórias como atleta de basquete e músico, ele resolveu apostar em uma nova ideia e empreender, mesmo com seu perfil mais introvertido.
Com uma empresa “de uma pessoa só”, terceirizando o desenvolvimento, ele foi responsável pela criação da primeira solução de vendas 100% mobile do país, que posteriormente chegou a eventos como Rock in Rio e Olimpíadas e, agora, vem atendendo também às necessidades do varejo. A expertise da empresa chamou a atenção da Getnet, que adquiriu a Eyemobile em 2021. A transação chamou a atenção do mercado, sobretudo em Santa Catarina — origem e sede da Eyemobile.
“Apesar do estado ter um ecossistema de inovação bem desenvolvido, muitos empreendedores não conheciam a Eyemobile por conta da nossa estratégia e forma de desenvolver o negócio, com um foco maior no business do que no marketing”, explica João. Embora há quem acredite que o low profile é para quem "não sabe se vender", a operação comprovou que os gigantes do mercado estão de olho em quem está trabalhando, mesmo que não haja holofotes sobre suas conquistas.
Além do foco em resultados, a introversão de quem trabalha de forma mais discreta normalmente é associada a outras características que podem ser importantes para o exercício do empreendedorismo, como a criatividade e a escuta ativa. Ao se manter em silêncio, esse empreendedor costuma ouvir mais o que os outros têm a dizer, o que pode auxiliar no relacionamento com clientes, no trabalho em equipe e na observação atenta para a resolução de problemas e tomada de decisões.
Por outro lado, João destaca que também há diversos desafios nesse perfil, sobretudo relacionados à construção de networking. “É claro que isso interfere nos negócios, já que nem sempre conseguimos influenciar outras pessoas com relação à importância do nosso trabalho. Também deixamos de ter ideias ou parcerias que poderiam surgir por conta dessas conexões”.
Os dois lados de crescer sozinho
Começar um negócio sozinho, a partir de recursos próprios — prática conhecida como bootstrapping no meio inovador — é uma opção bastante comum entre os empreendedores low profile.
Essa ausência de um investidor, porém, pode acarretar na perda de conexões e mentorias que normalmente acompanham os aportes, bem como em um crescimento mais limitado em decorrência da falta de recursos expressivos.
Por outro lado, também há pontos positivos na jornada empreendedora. “Há um controle maior sobre o próprio negócio, podendo-se trabalhar com o crescimento no ritmo desejado, construir a cultura da empresa e tomar decisões relacionadas ao rumo dos negócios de forma mais autônoma”, destaca o CEO da Eyemobile, que começou dessa maneira e recebeu apenas um investimento anjo de um executivo interno antes da aquisição.