Crédito: José Cruz | Agência Brasil

"Em 4 anos estaremos em voo de cruzeiro", diz Paulo Guedes

 

Paulo Guedes, ministro da Economia, é, sem sombra de dúvidas, o principal motor do Governo Bolsonaro. O economista empenha um esforço enorme para quebrar paradigmas e impor, de forma inédita, o verdadeiro 'choque de gestão' nas contas públicas e nas regras do jogo da economia brasileira. Não à toa foi eleito o melhor ministro da Economia da América Latina em 2019 pela revista inglesa GlobalMarkets. E também, agora, premiado pela REVISTA NEGÓCIOS.NET com o troféu TRANSFORMADORES. Hábil, comunicador, de fala fácil e sem rodeios, Guedes consegue traduzir temas complexos da economia até para leigos.

Sem abrir mão dos seus ideais liberais de extrema direita, com 'mão de ferro' ele vai somando pequenas conquistas que sinalizam para uma grande vitória caso a economia brasileira deslanche como ele mesmo vaticina. Para o ministro, o Brasil já está andando em 'altíssima velocidade', embora os efeitos não sejam instantâneos. Paulo Guedes faz uma análise realista dos avanços, das dificuldades e lança sua previsão: "Em 4 anos estaremos em voo de cruzeiro".

DEMOCRACIA A principal hipótese de trabalho que tínhamos quando chegamos com o presidente Bolsonaro é que o Brasil é uma vibrante democracia. Houve aliança de centro-direita, de conservadores, que forneceria sustentação política para a aprovação de reformas que eram importantes para o Brasil. Eu tinha essa convicção. Ao contrário de algumas críticas recentes de que o espaço democrático está diminuindo. Agora se ampliou a democracia.

REFORMAS Todos estão atentos a estas reformas de modernização, privatizações, abertura da economia, desestatização do mercado de crédito, simplificação e redução de impostos. Tudo é pauta interessante. Estamos trabalhando na reforma do Estado brasileiro. Fizemos a abertura política nos últimos 30 anos, mas não fizemos a abertura econômica. No regime militar investimos em estruturas através de estatais. Quando você democratiza o sistema político as exigências são diferentes. São recursos para saúde, educação, saneamento. O Estado precisa se transformar para atender estas legítimas aspirações sociais. E isso não foi feito quando estendemos o cobertor para a área social sem cortar os privilégios. Agora atacamos isso na reforma previdência. Antes jogaram recursos para o social mas não encolheram o setor público, moratória, juros altos e impostos elevados. O excesso de gastos acabou corrompendo a democracia. E estagnamos a economia. Nosso compromisso era fazer essa transformação. Politicamente foi vitorioso e sinalizou que a antiga política, de troca de favores, que a população rejeitou, não seria a forma que ele trabalharia.

GOVERNABILIDADE A resposta está aí. Existe governabilidade. O Congresso está aprovando e avançando nas reformas. A sociedade brasileira em está em transformação, a reforma econômica está atrasada. Diversos poderes estão preparados para este movimento. Tudo que tem acontecido tem confirmado nossas expectativas. A seção onerosa estava parada há 5 anos e o próximo leilão já vem aí. Vamos desentupir o problema que estava parado há anos. Isso envolveu CADE, ANP, Petrobras, Ministérios. Da mesma forma as privatizações – A Petrobras vendeu a BR, vendeu a TAG. Cada medida dessa está testando o ambiente institucional. Temos a lei da liberdade econômica, o choque da energia barata, o Mercosul estava parado há 8 anos, a aliança com União Europeia avançou, o livre comércio com a Argentina e México em automóveis avança. Estamos andando em altíssima velocidade, mas os efeitos não são instantâneos. Cortamos para os próximos 20 anos uma trajetória explosiva de gasto público. A reforma econômica está atrasada. Já deveria estar acelerada. Tudo que tem acontecido confirma nossas expectativas. Avançamos numa velocidade grande.

O QUE FALTOU AO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS? Tudo o que aconteceu no passado tirou o Brasil de uma trajetória de crescimento autossustentável. Éramos o país que mais crescia, sete por cento ao ano. Mais do que a China e Estados Unidos. Fomos desacelerando, de 7 por cento ao ano passamos a crescer 5 na década de 70. Na década de 80, a 'década perdida', crescíamos 2,5 por cento e atualmente estamos abaixo disso. O Brasil é uma baleia ferida. Arpoado por juros altos e excessos de gastos fechando a economia. Cada arpoada dessa influenciou. E agora não é em três ou quatro meses que o Brasil vai sair voando. Foram quatro décadas de abusos. Houve uma expansão excessiva de gastos e não é em dois ou três meses que recuperamos esta dinâmica de crescimento. Mas estamos seguros que vamos recuperar. Nós vamos na direção certa e os resultados virão até mesmo antes do que estamos esperando.

QUANDO A ECONOMIA DE FATO VAI MELHORAR?A reforma da previdência está praticamente entregue. O Senado analisa agora a inclusão dos Estados e Municípios. As coisas estão indo melhor do que que esperávamos. Falavam que não haveria governabilidade. Encontramos um Congresso maduro e preparado para aprovar a reforma. Há ainda as privatizações. Vamos mandar para o Congresso várias empresas grandes. O rumo está decidido. Vamos implementar um programa liberal democrata. Vamos manter o que deu certo e corrigir o que está dando errado. E o principal é o excesso de gasto público. Quero zerar o déficit primário. Quero vender todas as estatais. Temos 138 estatais federais e cerca de 250 estaduais. Tem como medir isso. Temos as informações. Nós vamos agora para a direção certa. O monitoramento vai acontecer naturalmente. Poderíamos reduzir déficit para apresentar um resultado melhor. Vou tentar zerar.

PACTO FEDERATIVO E NECESSIDADES DO NORDESTE Poderíamos destinar para a união os 106 bilhões de reais da seção onerosa. Isso podia ficar para o governo federal. Mas nós estamos dividindo. Estamos construindo o futuro. Quem quebrou foram os governos em todos os níveis federal, estadual e municipal. O setor público brasileiro quebrou, apesar dos impostos elevados. O Brasil gasta 400 bilhões de reais por ano só pra pagar juros. O Brasil reconstrói uma Europa inteira por ano. Brasil foi perdulário. Não controlou o gasto público. Agora vamos fazer a coisa certa. O dinheiro tem que ir para a saúde, o saneamento. Tem que ir para estados e municípios, que é onde o povo vive. As pessoas não moram aqui, em Brasília, onde atuam uns pra ajudar, uns pra atrapalhar e uns pra tirar dinheiro. Vamos começar a reduzir desequilíbrios. Este é o pacto federativo. Temos o apoio do presidente Bolsonaro que está fornecendo escudo para a equipe econômica avançar. O Congresso está sintonizado com a pauta de modernização. Estão alinhados na agenda da reforma. Queremos que o Brasil dê certo. Não queremos protagonismo.

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS EM 2019 No primeiro semestre tivemos a reforma da Previdência. No segundo semestre estamos tratando do pacto federativo. Vamos juntar tudo num imposto só. Mas não podemos avançar sobre uma legislação que não é nossa. Não posso avançar junto a eles, mas o Congresso pode, da mesma forma na reforma tributária. Vamos esperar que eles (Estados e Municípios) se acoplem à nossa reforma tributária. Vamos reduzir dramaticamente o número de impostos que existem. E queríamos reduzir as alíquotas. Por isso estávamos considerando o imposto sobre transações. Mas vamos trabalhar numa proposta conciliatória. A prioridade é o controle do gasto público.

REDUÇÃO DE IMPOSTOS E APOIO ÀS EMPRESAS O setor privado está com uma bola de ferro nas pernas, fazendo a sua parte, tentando construir riqueza. Não pode ter aumento de imposto. Se alguém tiver de pagar é quem está sonegando. Quem paga tem que pagar menos desde que quem não pague comece a pagar. Carga tributária não pode subir. Hoje está em 36% do PIB. Nosso objetivo é terminar em 30% do PIB. E não vamos furar o teto. Prefiro quebrar o piso e baixar impostos. Permitir que a classe política assuma orçamentos públicos. Cada um tem a liberdade e pague pelo custo de não ser um bom gestor. Vamos desvincular os orçamentos. Estamos chegando num momento importante da vida política brasileira. É a primeira vez nos últimos 40 anos que o governo central vai amputar seus próprios poderes. Sempre puxavam poder para si antes. Estamos apertando o cinto no Governo Federal. Vamos pegar os recursos e jogar para Estados e Municípios que é onde o povo vive. Tudo está avançando na base da boa política.

SINAIS DA ECONOMIA Pela primeira vez nos últimos 8 anos o crédito privado é maior que crédito público. Estamos reduzindo o endividamento. E expandindo crédito privado, os juros caem. E passaremos pelo processo de reindustrialização da economia brasileira em cima da energia barata. Estou vendo a coisa cada vez melhor em todas as dimensões. A arrecadação vem bem, estamos vendendo ativos.

SERVIDOR PÚBLICO O Servidor público não tem o direito de atrapalhar nosso trabalho. Não vamos fazer concurso público durante um bom tempo e vamos digitalizar tudo. Empresário tem que ter liberdade e apoio para atuar e não o contrário.

ABERTURA DA ECONOMIA Já no final deste ano a economia deverá estar em outro ritmo. Vamos abrir a economia. Vamos fechar ou privatizar. Os gastos públicos não vão crescer. Estamos trocando os principais eixos da economia. Um deles é o do investimento privado. Vamos priorizar investimentos privados em saneamento, aeroporto, infraestrutura. Vamos atrair o investimento privado. Vamos crescer mais rápido. Reduzir encargos, juros e impostos. O Brasil, em vez de ser uma economia centralizada, queremos que seja descentralizado. Vamos retomar crescimento sustentável. Não prometemos milagre. Mas o crescimento virá naturalmente. O ano que vem será mais suave, deve ser bem melhor, o dobro deste ano. No terceiro ano a gente decola. E no quarto ano estaremos voando, em voo de cruzeiro.

REFORMA TRIBUTÁRIA O ministro afirmou que a proposta de reforma tributária do governo será “conciliatória”. Hoje, outros 2 textos já tramitam no Congresso, 1 na Câmara e outro no Senado. Ele defendeu a simplificação de tributos com a adoção de 1 IVA dual, com adesão voluntária de Estados e municípios. De acordo com ele, depois de “2 ou 3 Estados grandes” aderirem, os outros também devem seguir o mesmo caminho. Defendeu também a adoção de 1 imposto sobre movimentações financeiras, nos moldes da antiga CPMF, como forma de desonerar a folha de pagamento.

META DE PRIVATIZAÇÕES Guedes afirmou que para combater o "fantasma dos juros da dívida" o governo está investindo em acelerar o plano de privatizações. Segundo ele, a meta para o 1º ano é arrecadar R$ 80 bilhões com os processos "para aquecer o time". Sobre o déficit primário em 2019, previsto em R$ 139 bilhões, ele disse que se os recursos da cessão onerosa ficassem para a União "praticamente zeraria". "Mas preferi dividir com Estados e municípios", completou. Durante a campanha, Guedes havia prometido zerar o déficit em 2019 e fazer superávit já em 2020. O ministro disse ainda que nos seus planos para o ano está o envio do pacto federativo ao Congresso Nacional.

  Revista Negócios
 Veja Também