Coperativas financeiras e fintechs, empresas de tecnologia no setor financeiro, estão se aproximando para oferecer serviços no mercado de câmbio e crédito e assim conseguir ampliar o número de clientes. A estratégia pode ser positiva para os consumidores, com aumento da concorrência no mercado financeiro, ampliando o poder de escolha, avaliam representantes dos setores.
A ideia é que as cooperativas e as fintechs possam fazer integração de plataformas, com compartilhamento de informações e dados dos clientes. “O que as fintechs querem é que, dentro dos aplicativos, elas consigam se integrar, se conectar pelos APIs, que são esses protocolos de comunicação seguros, para que o cliente possa abrir uma conta, emprestar, consultar extrato ou a fatura do cartão de crédito”, disse o diretor executivo do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) Empresas no Rio de Janeiro, Eduardo Diniz.
No último dia 13, um encontro fechado uniu o setor de cooperativas a 20 lideranças de inovação no setor financeiro, além de representantes do Departamento de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central. “O Sicoob tem crescido 30% ao ano. Mas o sistema cooperativo representa só 3% do setor. Nos países desenvolvidos, o sistema cooperativo representa uma média de 25%, 30%. Vemos nessa integração com as fintechs uma oportunidade para buscar pelo menos dois dígitos de participação no mercado financeiro e propiciar um ambiente para as fintechs poderem crescer. Em um ambiente extremamente regulatório, o Banco Central é muito firme, precisa de apoio de instituições financeiras para poder crescer”, afirmou Diniz.
O diretor da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Bernardo Pascowitch, avalia que o contato com as cooperativas é uma forma de ampliar a atuação das empresas de inovação. “As cooperativas estão em contato diretamente com trabalhadores e com a população de diferentes aspectos, classes sociais e atividades econômicas. Hoje, o grande desafio é atingir a população brasileira, é levar todas as soluções das fintechs para essa população”, disse Pascowitch.
Atualmente, a ABFintechs tem cerca de 350 associadas e estima que esse número corresponda a 85% dessas empresas do Brasil. A maioria delas atua no segmento de meios de pagamento (23%) e cartão de crédito (18%).
Eduardo Diniz afirmou que no encontro com as fintechs foram discutidos negócios como no mercado de câmbio. “O Sicoob está buscando junto ao Banco Central autorização para operar câmbio. Queremos estrear no mercado com uma solução integrada com uma fintech que já tem conhecimento e tecnologia. É uma fintech que faz cotação com diversas casas de câmbio”, disse.
Outro negócio que pode ser fechado entre as cooperativas e as fintechs é compartilhar uma plataforma que permite fazer simulação e contratação de crédito consignado. “Por essa parceria, o cliente vai conseguir fazer tudo online, com contrato assinado digitalmente. Vamos fazer um projeto-piloto com funcionários de um supermercado”, contou Diniz.
Atualmente instituições de pagamento, que podem oferecer serviços como cartões pré-pagos, cartões de crédito, cartões de vale-refeição e credenciar lojistas para aceitarem meios de pagamento eletrônico, quando não são regulados pelo BC, precisam fazer parceria com instituição financeira para atuar no mercado. Atualmente, a maioria das instituições de pagamento não é regulada pelo BC: 112. Sete são reguladas. Para serem reguladas, as empresas precisam movimentar a partir de R$ 500 milhões por ano e passar por um processo de autorização do Banco Central.
Neste ano, o Conselho Monetário Nacional (CMN) editou norma que permite dois modelos para fintechs operarem, sem necessidade de parceria com instituição financeira, no mercado de crédito. São a sociedade de crédito direto (SCD) e a sociedade de empréstimo entre pessoas (SEP). No primeiro sistema, as empresas emprestam recursos próprios por meio de plataforma eletrônica. No segundo, empresas ou pessoas físicas entram numa plataforma para emprestar dinheiro a outras pessoas, modalidade conhecida como peer-to-peer lending.
“No caso das fintechs de investimento e de câmbio, ainda é necessária a existência de parceria com uma instituição financeira. Com as cooperativas, ampliamos a possibilidade de parcerias para as fintechs”, destacou Bernardo Pascowitch.
Fintechs: crescimento pode aumentar concorrência e baratear empréstimo
O crescimento das fintechs, empresas de tecnologia no setor financeiro, deve acelerar a partir da regulamentação, determinada na quinta-feira (26) pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A ideia é que, com a expansão dessas empresas, aumente a concorrência no sistema financeiro, consequentemente os custos de empréstimos para clientes desse segmento devem cair e uma parcela maior da população ter acesso a serviços financeiros, como empréstimos, seguros, investimentos e meios de pagamento.
O CMN estabeleceu dois modelos para as fintechs operarem: a sociedade de crédito direto (SCD) e a sociedade de empréstimo entre pessoas (SEP). No primeiro sistema, as empresas emprestam recursos próprios por meio de plataforma eletrônica. No segundo, empresas ou pessoas físicas entram numa plataforma para emprestarem dinheiro a outras pessoas, modalidade conhecida como peer-to-peer lending.
As resoluções abrem caminho para as fintechs atuarem sem estarem vinculadas a uma instituição financeira convencional. Elas também não podiam emprestar com recursos próprios. O CMN estabeleceu capital mínimo de R$ 1 milhão para as fintechs de ambos os tipos poderem operar. Na modalidade peer-to-peer, cada credor poderá emprestar até R$ 15 mil para um tomador. Este, no entanto, poderá contrair vários empréstimos de R$ 15 mil com credores diferentes. A SEP não pode operar com recursos próprios, apenas fazer a intermediação entre emprestador e tomador.
Levantamento
O CMN permitiu que as fintechs façam análise de crédito, cobrança, representação de seguros e emissão de moeda eletrônica. Elas, no entanto, não poderão vender investimentos ao público, como certificados de depósitos bancários (CDB), debêntures e demais instrumentos financeiros para captarem recursos.
Diretor de Regulação da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Mathias Fischer informou que hoje quase 50% da população brasileira não têm acesso a serviços bancários e empresas de menor porte, como as startups, e têm dificuldades para conseguir financiamentos. “Em função dos seus procedimentos simplificados e do uso intensivo de tecnologia para a realização das análises de crédito, espera-se que a gente consiga reduzir o custo dos empréstimos e fornecer o acesso ao crédito a algumas parcelas da população e de empresas. São as pessoas sem conta em banco e que têm dificuldades de acessar empréstimos ou empresas de menor porte, starups, que não tem os 36 meses de faturamento que alguns bancos pedem”, disse Fischer.
Atualmente, existem 343 fintechs associadas. A ABFintech pretende concluir no próximo mês um levantamento com mais dados sobre o setor. Fundador da Kavod Lending, fintech de crédito voltado para empresas, Fábio Neufeld disse acreditar que haverá aumento da competição no mercado. “Com a regra clara, as fintechs vão conseguir fazer mais investimentos e crescer mais rápido. Os bancos terão de acompanhar a redução de juros ou fazer parcerias com as fintechs.”
Conforme Neufeld, com a regulamentação não será mais necessário depender de uma instituição financeira para atuar no mercado. “Para cumprir a legislação, há a necessidade de estar ligado a uma instituição financeira e atuar como corresponde bancário. Hoje, fazemos a modalidade de peer to peer lending, mas, na realidade, estruturamos toda a operação e entregamos para uma instituição financeira fazer a formalização”, afirmou Neufeld.
Vantagens
A Kavod Lending opera no modelo de financiamento coletivo peer to peer, em que qualquer pessoa pode emprestar dinheiro para empresas de pequeno e médio portes com faturamento anual mínimo de R$ 6 milhões. As operações contam com garantias como recebíveis, máquinas, automóveis, imóveis, aplicações financeiras, entre outros bens materiais.
Segundo Neufeld, a aprovação do Banco Central para proponentes atuarem como instituição financeira deve levar cerca de seis meses. “A vantagem é que deixa as operações mais flexíveis, mais ágeis e mais baratas, sem a intermediação de outra instituição.”
Para o fundador da Fintech, essa operação como correspondente bancário acaba deixando os empréstimos com taxas mais caras. “Os bancos cobram, às vezes, uma comissão, um custo desproporcional ao trabalho que tem e a responsabilidade deles nessa operação. Então, na prática, ter mais um intermediário encarece a operação”, avaliou Neufeld. Ele afirmou que atualmente as taxas dos empréstimos às empresas variam de 1,5% a 1,9% ao mês. Sem a intermediação de bancos, essas taxas podem cair entre 30% e 40%.
Investidor, Lucas Cimino, 28 anos, dono de uma galeria de arte, começou a aplicar dinheiro por meio das fintechs em 2016. Segundo ele, as primeiras duas experiências, no modelo peer to peer, não foram tão boas por não ter sido exigido garantias das empresas que tomavam os empréstimos. “É muito importante ter uma fintech que faça um bom controle de risco para os seus clientes. Vai emprestar para empresas que têm capacidade de pagar. Tem de ser muito seletivo na hora de empresar dinheiro, ter uma garantia em troca”, disse.
De acordo com Cimino, com a taxa básica de juros, a Selic, mais baixa, fixada em 6,5% ao ano, é preciso procurar investimentos mais rentáveis no mercado, apesar do aumento do risco. Para ele, os investimentos por meio das fintechs são alternativas ao CDBs ofertados pelos bancos e os títulos do Tesouro Direto, por exemplo, com o dobro dos rendimentos. “O fato de ter uma garantia [das empresas que tomam o empréstimo] mitiga o risco. Com o tempo as pessoas vão passar a conhecer mais essa forma de investimento", concluiu o investidor.
Fonte: Agência Brasil