A retomada gradual das atividades econômicas no Rio Grande do Norte, após período de isolamento social em virtude da pandemia de Covid-19, ainda é lenta para a indústria potiguar que enfrenta dificuldades com o acesso ao crédito. Mesmo com queda na demanda e prejuízos, o setor manteve alguma produção e acredita que a estratégia de reabertura – obedecendo os protocolos de biossegurança preconizados por autoridades de saúde, de forma coordenada nas esferas de governo – terá resultados mais eficientes com a desburocratização para concessão do crédito.
A crise gerada pela pandemia do Coronavírus levou o governo federal a anunciar linhas de financiamento emergencial e bancos públicos e privados passaram a oferecer, nos últimos meses, uma série de novas linhas de crédito para pequenas e médias empresas impactadas pela queda da atividade econômica, seja para capital de giro, pagamentos de salários e outras despesas operacionais. Contudo, empresários e entidades da indústria potiguar reclamam que o recurso não tem chegado à ponta final devido a burocracia e exigências dos bancos.
Para o setor de pesca extrativista, na prática, a retomada da economia ainda não ocorreu, seja pela logística de distribuição seja pela dificuldade de crédito para manter as atividades. O setor precisou demitir pessoal e mantém 30% da frota de embarcações em atividades, com tendência a paralisar totalmente nos próximos meses, caso não tenha acesso as linhas de financiamento, conforme explica o presidente do Sindicato da Indústria de Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Sindipesca), Gabriel Calzavara. Cerca de 80% das operações de escoamento são pelo modal aéreo, que não retomou os voos regulares devido a pandemia do novo Coronavírus.
“Chegamos a uma situação de estrangulamento pela queda na demanda e pela logística e podemos parar por completo. O setor de pesca extrativista, gerador de emprego e renda que movimenta 12 arranjos da cadeia produtiva, precisa de capital de giro, de suporte para esses três meses, para o custeio das embarcações, para a folha de pagamento, para manter empregos”, enfatiza Calzavara. “Estamos nos reunindo com superintendentes dos bancos do Nordeste, do Brasil e Caixa para saber por que o crédito não chega ao setor. Há muita burocracia e exigência de garantias. Chegamos ao limite”, completou o presidente do Sindipesca/RN.
Tecelagem
O presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado do RN (SIFT), João Lima, lembra que as linhas criadas pelo governo federal auxiliam em especial as micro e pequenas empresas, mas que a morosidade e os trâmites e garantias exigidas dificultam a tomada do crédito. E, para as empresas de grande porte, a situação é mais desafiadora. “As linhas existem, foram criadas com foco nas pequenas neste período de pandemia. Para as grandes, é ainda mais complicado, os custos de produção, o custo Brasil é alto, há muita burocracia, não é fácil. Os juros mais baixos têm ajudado as empresas, mas é preciso reduzir os custos, facilitar o acesso ao crédito para as empresas e, assim, a economia voltar ao seu ritmo”, disse João Lima.
A indústria têxtil e de confecções, acrescenta ele, não precisou encerrar atividades no Rio Grande do Norte devido a pandemia e tem adotado todas as medidas necessárias para assegurar os cuidados com os trabalhadores. “É uma obrigação do setor fazer com que os protocolos de biossegurança sejam seguidos. O setor vem agindo de forma segura e tem feito bem mais que o exigido pelo governo porque entendemos que nosso maior patrimônio é o nosso colaborador”, afirmou.
Petróleo
O setor petroleiro no Rio Grande do Norte, que passa por uma restruturação após desinvestimentos da Petrobras, tem enfrentado ainda mais dificuldade no período de pandemia. O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do RN (SIMETAL), Francisco Vilmar Pereira, conta que a dificuldade maior das empresas tem sido segurar a mão de obra qualificada sem ter, até então, conseguido que o dinheiro devido aos entraves dos bancos para a concessão que fazem com que o crédito não chegue às empresas.
“Até agora só tivemos a divulgação desses bilhões em recursos para financiar folha de pagamento, porque não chegou em Mossoró. Estamos buscando os bancos (BNB, BB e CEF) para ver o que pode ser feito. Nosso quadro de pessoal é especializado, precisamos manter e não dispensar, mas enfrentamos dificuldade na manutenção desses empregos”, afirma Vilmar Pereira. No final de março, o governo federal anunciou linha de crédito para bancar a folha de pagamento por dois meses, num total de R$ 40 bilhões.
Por Sara Vasconcelos, jornalista Unicom/FIERN
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