Toda vez que a bordadeira Iracema Nogueira Batista vender uma de suas peças confeccionadas cuidadosamente na máquina, fio a fio, o cliente de qualquer parte do país agora terá a certeza de que o trabalho foi de fato produzido numa das regiões mais ricas culturalmente do Rio Grande do Norte. Os Bordados de Caicó ganharam o selo de Indicação Geográfica (IG), na categoria indicação de procedência, pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O título foi concedido nesta terça-feira (23) e válido para os bordados produzidos na cidade de Caicó e de outros 11 municípios do Seridó com tradição nessa arte secular que é bordar.
Desde junho de 2018, que o Rio Grande do Norte entrou com o pedido de reconhecimento do bordado como verdadeiramente de origem geográfica do Seridó Potiguar como local de produção atestado. Com esse selo, o estado soma dois produtos com IG. O melão amarelo da região de Mossoró foi o primeiro a obter o registro ainda em 2013. O processo de obtenção da IG para o bordado é um esforço coletivo entre as bordadeiras, Sebrae no Rio Grande do Norte e Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas), tendo como requerente o Comitê Regional das Associações e Cooperativas Artesanais do Seridó (Cracas)
“O selo de IG é um reconhecimento ao talento e trabalho valoroso das bordadeiras da região do Seridó, que conquistaram o país com a fama dos bordados de Caicó. É um diferencial para criar identidade e abrir novos mercados para o artesanato potiguar”, destaca o diretor Técnico do Sebrae-RN, João Hélio Cavalcanti. Ele assegura que, além do melão e agora os bordados, o RN pleiteia IG para outros dois produtos terroir: o Mel de Jandaíra e as Ostras da Pipa, que já têm processos abertos no INPI.
“Não é só questão de ganhar clientes. Faz parte de valorizar esse trabalho que é feito aqui com tanto cuidado e que muitas vezes é comercializado lá fora sem ser identificado que é daqui. Agora teremos um selo confirmando que o bordado é de Caicó”, comemora a artesã Iracema Nogueira, que borda há pelo menos 60 anos. Apesar de o título vir como de Caicó, o selo referenda como o produto da região é mais conhecido, mas é valido também para toda a produção de bordados dos municípios vizinhos: Timbaúba dos Batistas, São Fernando, Serra Negra do Norte, São João do Sabugi, Jardim do Seridó, Ipueira, Cruzeta, São José do Seridó, Jucurutu e Ouro Branco.
Valorização
A presidente do Cracas, Arlete Silva, comemora a conquista do IG, um anseio que, segundo ela, já vinha desde a década de 1970 e agora vai valorizar os trabalhos. “Para as bordadeiras do Seridó, é título de grande valor. O Brasil inteiro, e até mesmo outros países, já conheciam a qualidade do nosso bordado e muitos se aproveitam da fama para vender peças feitas em outros estados, principalmente Ceará, como se fosse bordado de Caicó”, conta a presidente.
Os bordados de Caicó são o 70º produto a conquistar o selo de IG no Brasil. O termo "indicação geográfica" foi se firmando quando produtores, comerciantes e consumidores começaram a identificar que alguns produtos de determinados lugares apresentavam qualidades particulares, atribuíveis à sua origem geográfica, e começaram a denominá-los com o nome geográfico que indicava sua procedência, popularmente conhecido também como terroir.
Os produtos que apresentam uma qualidade única, explorando as características naturais, tais como geográficas (solo, vegetação), meteorológicas (clima) e humanas (cultivo, tratamento, manufatura), e que indicam de onde são provenientes são bens que possuem um certificado de qualidade atestando sua origem e garantindo o controle rígido de sua qualidade.
Processo de obtenção
A modalidade do selo é Indicação de procedência, que traz o nome geográfico (país, cidade, região ou localidade) reconhecido pela produção, fabricação ou extração de determinado produto ou serviço. O processo para conquistar essa certificação começou em 2012 a partir do projeto Territórios da Cidadania Seridó. Em 2018, o Sebrae contratou uma consultoria especializada para dar suporte ao processo e atender as exigências do INPI. “O INPI fez duas exigências e tivemos de ir atrás, em busca de documentos que respondessem aos questionamentos”, lembra o analista do Sebrae-RN, Yves Guerra, que à época estava à frente do processo.
Segundo ele, foi feita uma pesquisa bibliográfica, histórica e documental, que atestase a relação do bordado com a história e a cultura da região. “Foram feitas várias reuniões com as bordadeiras, para explicar o que é a Indicação Geográfica”, conta. Para Yves Guerra, o selo pode trazer bons resultados para o turismo do RN. “Em todos os eventos de turismo, o artesanato já se faz presente e, com o selo, as pessoas também terão interesse de conhecer o produto, o modo como é feito, o processo de produção”. Ele informa que, durante esse processo da IG, o Sebrae conseguiu estruturar uma espécie de ‘roteiro’ do bordado de Caicó, com experiências e vivências na região.
A gestora da ação Indicações Geográficas dentro dos projetos de inovação do Sebrae-RN, Michelli Trigueiro, explica que o papel do Sebrae é justamente apoiar a identificação, estruturação e fortalecimento de indicações geográficas no RN. “Essa IG é o reconhecimento da arte do bordado, tão tradicional, histórica e representativa daquela região. Um produto com a indicação geográfica é a garantia para o cliente das qualidades que contribuíram para sua reputação atreladas aquela região geográfica, tornando-o diferenciado dos demais no mercado”.
Agência Sebrae